Deixar sua sobrinha morrer sangrando ou amputá-la? Essa foi a decisão que o médico palestino Hani Bseiso enfrentou, após a jovem ficar ferida por um bombardeio israelense em sua casa, na Cidade de Gaza.

Bseiso afirmou à Reuters, que não havia condições de chegar a um hospital próximo e utilizou uma tesoura e um pouco de gaze que tinha na sua bolsa médica. A operação foi feita na mesa de cozinha e sem anestesia. Ele removeu a parte inferior da perna direita de A’Hed Bseiso.

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Mesmo a 1,8 km do hospital Al-Shifa de Gaza, que fica a seis minutos de carro ou a 25 minutos a pé, Bseiso disse que o intenso fogo israelense na área tornou muito perigoso tentar chegar lá.

“Infelizmente, eu não tinha outra opção. A escolha era deixar a menina morrer ou tentar fazer o melhor que eu pudesse”, explicou à Reuters esta semana em uma entrevista no local onde ele amputou a perna dela em 19 de dezembro.

A Reuters não conseguiu confirmar de forma independente o que atingiu sua casa, por que ela foi atacada e quais eventos precederam o ataque.”Eu poderia levá-la ao hospital? Claro que não”, disse Bseiso, descrevendo a área como “sitiada”. “Os tanques estavam na entrada da casa”.

A’hed Bseiso, de 18 anos, faz parte de uma geração de jovens amputados que está emergindo da guerra travada em Gaza desde que militantes do Hamas atacaram Israel em 7 de outubro, matando cerca de 1.200 pessoas e fazendo 253 reféns, de acordo com os registros israelenses.

Mais de 1.000 crianças em Gaza foram submetidas a amputações de pernas até o final de novembro, de acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Israel

As autoridades israelenses afirmam que trabalham para minimizar os danos aos civis. Solicitados a comentar sobre os eventos de 19 de dezembro, os militares israelenses não responderam especificamente às perguntas sobre o incidente na casa de A’Hed Bseiso, mas disseram que o Hamas usou complexos hospitalares como cobertura, uma alegação que o grupo militante nega.

“Uma característica central da estratégia do Hamas é a exploração de estruturas civis para fins terroristas”, disseram os militares à Reuters.

“Especificamente, está bem documentado que o Hamas usa hospitais e centros médicos para suas atividades terroristas, construindo redes militares dentro e embaixo dos hospitais, lançando ataques e armazenando armas dentro dos limites dos hospitais e usando a infraestrutura e o pessoal dos hospitais para atividades terroristas.”

“Lamentavelmente, o Hamas continua a colocar os cidadãos mais vulneráveis de Gaza em sério perigo ao usar cinicamente os hospitais para o terror”, afirmaram.

Com informações da Reuters*