Gaza é deserto de escombros, morte e fome após 2 anos de guerra entre Israel e Hamas

Em 7 de outubro de 2023, o grupo radical islâmico atacou vilarejos israelenses

Israel bombardeou intensamente a Cidade de Gaza
Israel bombardeou intensamente a Cidade de Gaza Foto: REUTERS/Dawoud Abu Alkas

Dois anos após o ataque do Hamas ao sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, o que se vê na Faixa de Gaza é um deserto de escombros, morte e fome. No período, dois milhões de palestinos foram deslocados diversas vezes e, atualmente, se aglomeram majoritariamente na região sul da cidade.

A ajuda humanitária é mínima e, apesar da promessa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de concluir um acordo de cessar-fogo, a população vê poucas perspectivas de paz.

Conflito começou com ataque do Hamas

Em 7 de outubro de 2023, o grupo radical islâmico Hamas atacou vilarejos israelenses através das cercas ao redor de Gaza, matando 1,2 mil pessoas, entre israelenses e estrangeiros, e fazendo 251 reféns.

No dia seguinte, Israel respondeu com a Operação “Espada de Ferro” na região, em ofensiva para libertar cidadãos sequestrados que incluiu ataques aéreos até mesmo contra as áreas mais populosas.

Após uma semana de ataques, em 13 de outubro, o Exército israelense ordenou que os moradores do norte de Gaza se mudassem para o sul, evacuando mais de um milhão de pessoas, o maior deslocamento de palestinos de suas casas.

Familiares e amigos participam de um serviço memorial para a família Kutz, morta no ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, no cemitério de Gan Yavne, em 5 de setembro de 2024 - AFP

Familiares e amigos participam de um serviço memorial para a família Kutz, morta no ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, no cemitério de Gan Yavne, em 5 de setembro de 2024 – AFP

Reação de Israel se tornou mais violenta a cada mês

Em 27 de outubro, as Forças de Defesa de Israel iniciaram uma incursão terrestre, separando o norte do sul da regiao e lançando sua ofensiva mais sangrenta de todos os tempos, destruindo grandes cidades e vilarejos. Aqueles que se recusaram a evacuar testemunharam assassinatos em massa, fome e prisões.

A primeira trégua, mediada por Egito, Catar e Estados Unidos, ocorreu em novembro de 2023, com a libertação de um primeiro grupo de reféns em troca de centenas de palestinos detidos em prisões israelenses. Já a segunda foi anunciada no Catar em 19 de janeiro de 2025, mas Israel rompeu a trégua e retomou a guerra em 18 de março, com novos ataques a Gaza.

Entre essas duas etapas, as tropas israelenses protagonizaram atos repudiados pela comunidade internacional, como o assassinato de pessoas que buscavam alimentos e a execução da pequena Hind Rajab, presa em um carro, e dos paramédicos que tentavam alcançá-la.

O Exército israelense também conseguiu decapitar lideranças do Hamas em Gaza, incluindo os militares Mohammed Deif e Yahya Sinwar. Ambos haviam sido alvos do Tribunal Penal Internacional em novembro de 2024, que também emitiu mandados de prisão para o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e o então ministro da Defesa, Yoav Gallant.

Tanto Netanyahu quanto Gallant foram acusados de crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos como parte de “um ataque generalizado e sistemático contra a população civil de Gaza” e de usar “a fome como método de guerra”.

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, é acusado de cometer crimes contra a humanidade

Israel impôs um bloqueio rigoroso ao enclave palestino, impedindo o acesso à ajuda humanitária: 2 milhões de pessoas precisam de 500 caminhões de suprimentos por dia, mas apenas pequenas quantidades foram permitidas, causando fome e falta de assistência médica.

Em agosto de 2025, a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou que mais de meio milhão de palestinos passam fome, número que condiciona a existência de fome generalizada. No início de outubro, a estimativa era de que 90% dos moradores de Gaza estavam desabrigados e que, ao todo, 67 mil foram mortos no conflito.

Quase 170 mil civis ficaram feridos, incluindo 4,8 mil amputações, e 1,2 mil ficaram completamente paralisados. No total, 2,7 mil famílias foram completamente dizimadas em ataques das Forças de Defesa de Israel, e mais de 12 mil casos de abortos espontâneos ocorreram devido à desnutrição e à falta de assistência médica.

Israel também passou a inibir a entrada de repórteres internacionais na Faixa de Gaza e mais de 200 jornalistas palestinos foram mortos.

O que esperar a seguir

Nos últimos dois meses, vários países reconheceram o Estado da Palestina, em sinal de alinhamento da reação internacional à atuação israelense, em especial entre as nações europeias.

Em seu anúncio, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que o reconhecimento é “uma forma de afirmar que o povo palestino não é só mais um povo”. “É um povo com história e dignidade, e o reconhecimento de seu Estado não subtrai nada do povo de Israel“, concluiu.

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O presidente Emmanuel Macron na Assembleia Geral da ONU: França foi um dos países a reconhecer Estado Palestino

Sob liderança de Donald Trump, há negociações em curso pela construção de um acordo de cessar-fogo no conflito. A proposta do presidente americano tem como principais compromissos que Gaza seja uma zona livre de terrorismo e desradicalizadaIsrael interrompa os ataques e todos os reféns, vivos ou mortos, sejam devolvidos a suas nações de origem.