Gaza amanhece de luto após noite de bombardeios israelenses

Em frente a um hospital de Gaza, o canto de um galo se misturou na quarta-feira (21) ao amanhecer com os choros de várias mulheres, enquanto os socorristas descarregavam cadáveres após mais uma noite de bombardeios israelenses.

Entre os corpos levados ao hospital Nasser, em Khan Yunis, no sul de Gaza, se encontrava o de Aysal Abu Salah, de apenas um ano e meio de idade, segundo o centro de saúde.

A equipe de resgate afirmou que ao menos outras 12 pessoas morreram no mesmo bombardeio.

O corpo de Abu Salah chegou coberto por um pó azul e preto, que às vezes adere à pele das vítimas dos ataques aéreos, e com o crânio aberto.

Ao seu lado, vários homens deixaram sacolas com a inscrição “Nações Unidas” que continham partes de cadáveres recuperadas no lugar do mesmo ataque, uma casa da zona agrícola de Abasan al Kabera, nos arredores de Khan Yunis.

O Exército israelense ordenou a evacuação da área na segunda-feira, avisando que ocorreriam ataques e combates.

Contactado pela AFP, o exército não fez comentários sobre o bombardeio noturno.

Israel intensificou sua ofensiva em Gaza na semana passada, prometendo derrotar o Hamas, cujo ataque de 7 de outubro de 2023 desencadeou a guerra.

A Defesa Civil de Gaza afirmou que mais de 20 bombardeios atingiram Khan Yunis e seus arredores durante a noite, e que entre os alvos estavam campos de palestinos deslocados pelo conflito.

Imagens da AFPTV do sul de Gaza registradas a partir do lado israelense mostram múltiplos ataques na manhã desta quarta-feira.

Os socorristas reportaram dezenas de mortes diárias desde que Israel intensificou os ataques no território estreito, onde vivem 2,4 milhões de palestinos.

Todas as manhãs, a Defesa Civil divulga o número de mortos nos bombardeios noturnos que frequentemente atingem casas da zona rural e edifícios residenciais no norte, antes densamente povoado.

– “Já chega!” –

Feriel Abu Salah, que disse ter perdido uma irmã no ataque em Abasan al Kabera, esteve a ponto de desmaiar na entrada no hospital.

“Ah, como eu sofro”, disse com o rosto encharcado em lágrimas, desolada no meio de uma multidão de mulheres e crianças na entrada do necrotério.

“Morreram sete crianças!”, afirmou uma delas. “Já chega, já chega!”, acrescentou, segurando a cabeça com as mãos e olhando para cima.

No quarto do hospital onde os corpos da família Abu Salah jaziam enfileirados, um homem tremia enquanto sufocava seus soluços. Quase caiu, mas outros homens o seguraram com força.

Os membros da família Abu Salah mortos durante a noite são parte das 53.655 pessoas que, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, governada pelo Hamas, foram mortos no território palestino desde o começo da guerra.

Segundo o ministério, ao menos 3.509 pessoas foram mortas desde que Israel retomou os ataques em 18 de março, depois de meses de cessar-fogo.

Durante o ataque que desencadeou a guerra em 2023, os combatentes do Hamas mataram 1.218 pessoas em Israel, em sua maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em números oficiais.

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