Hábito britânico, jeito brasileiro, japonês, vietnamita, italiano. Muito à frente dos ovos mexidos com bacon e panquecas, o misto de café da manhã e almoço, que surgiu na Inglaterra no século XIX e se popularizou nos Estados Unidos em 1930, vem ganhando toques regionais e até mesmo de outras nacionalidades no Brasil.

• Em São Paulo, é possível apreciar pães e doces coreanos na Komah Bakery.

• No Rio de Janeiro, a refeição com traços do Oriente Médio tem até coquetel com o tempero típico zaatar e azeite de oliva.

Em edições exclusivas, a Mori Chazeria, também na capital paulista, recebe os clientes para um asagohan japonês, com itens como salmão, omelete adocicado, arroz e sopa de missô (pasta de soja fermentada).

No Locale Caffè, em São Paulo, preparos originais ganham toque italiano: a torrada conhecida como toast ganha o nome de tostata e leva, na versão caprese, muçarela de búfala, tomate e manjericão, por exemplo. Outras receitas típicas são adaptadas ao horário do dia, segundo o sócio do grupo Locale, Nicholas Fullen. “O cannoli tradicional, por não ser tão doce, vai muito bem com café, o negroni ganha versão mais suave e o próprio panini de carpaccio é capaz de suprir um almoço”, fala ele, sobre o sanduíche feito com pão italiano e recheado com finas fatias de carne crua.

“O mais difícil é convencer as pessoas que o pho é, na verdade, um prato de café da manhã”, diz Dani Borges, chef e sócia do Bia Hoi, que serve brunch vietnamita em São Paulo. A sopa tradicional do Vietnã a que ela se refere leva, predominantemente, caldo de especiarias e carne, macarrão de arroz e ervas aromáticas.

“Os melhores lugares para tomá-la em cidades como Hanói ou Ho Chi Minh abrem antes do amanhecer e finalizam o atendimento às 10h.” O fato de o país ter recebido influência de muitas culturas – inclusive forçadamente, durante a guerra que durou 20 anos – contribuiu para a criação de pratos do brunch característico. “O sanduíche banh mi, por exemplo, surgiu de uma forma simples, inspirado na baguete com manteiga francesa.”

Jeitinho brasileiro

A refeição compartilhada vem ganhando cada vez mais adeptos no Brasil, desde que foi impulsionada no início nos anos 2000, com os grandes hotéis servindo menus inspirados na Europa e em Nova York. É na cidade norte-americana, inclusive, que acontecem algumas das cenas de brunch mais icônicas da ficção: ao redor da mesa com os produtos típicos ocorre boa parte das reuniões das quatro personagens do seriado Sex And The City, que entrou recentemente no catálogo da Netflix.

Mas não é preciso ir tão longe para descobrir que há raízes brasileiras nas refeições estendidas. “Toda semana vem uma carga aérea de Recife. Os clientes querem provar os itens que não tem aqui, como o queijo manteiga, usado na sobremesa Cartola”, diz Carla Konrad, sócia do Nica Café, que possui no cardápio opções pernambucanas, como bolo de rolo, cuscuz com leite de coco e pout-pourri de cocadas.

“O ‘cafezão’ prolongado já é uma realidade em Minas Gerais”, diz Francisco Soares Montans, restaurateur e sócio do Quente da Boca, em São Paulo. No novo espaço inspirado na obra de Guimarães Rosa, os preparos unem a tradição mineira com a paulista para aqueles que procuram passar mais tempo à mesa ­— e o dia todo.

Segundo Montans, a experiência tem a vantagem de dar lugar ao almoço tradicional do final de semana e a crescente busca por ela também vem ao encontro da valorização de uma cultura diurna. “O ‘sotaque’, tanto daqui, quanto do exterior, ajudam a tornar o conceito do brunch mais claro ao cliente, que entra sabendo do que se trata a comida, o ambiente”, acrescenta.

BADUK, no Rio de Janeiro
Médio-oriental

Gastronomia: sabe o brunch? Agora tem sotaque
Variações sobre o ovo: além do Shakshuka com molho de tomate, os ovos estão em versão do prato com vegetais e queijo de cabra, e mexidos, no Menemen Turco (Crédito:Dilvulgação)

QUENTE DA BOCA, em São Paulo
Mineiro

Gastronomia: sabe o brunch? Agora tem sotaque
Caipira: acima, o Cróc Minas leva creme de milho e queijo meia cura;  abaixo, bolo com calda de laranja e café coado (Crédito:Fabiana Kocubey)

 

Gastronomia: sabe o brunch? Agora tem sotaque
(Divulgação)

NICA CAFÉ, em São Paulo
Pernambucano

Gastronomia: sabe o brunch? Agora tem sotaque
Ponte aérea: acima, cuscuz com leite de coco, queijo manteiga e mel de engenho; abaixo, bolo de rolo com goiaba e creme azedo (Crédito:@marinho11)
Gastronomia: sabe o brunch? Agora tem sotaque
(Dilvulgação)

LOCALE CAFFÈ, em São Paulo
Italiano

Gastronomia: sabe o brunch? Agora tem sotaque
À moda da casa: Tostata Caprese, de muçarela de búfala, tomate, pesto e creme de ricota, Negroni e Cannoli (Crédito:@marinho11)