RESUMO

• Profissionais premiados retornam à cozinha dos grandes hotéis
• Hóspedes e clientes ganham gastronomia contemporânea, inspirada na culinária, cultura e tradições da região onde estão localizados
Hotel se beneficia com o nível técnico de entrega, e chefs são favorecidos com estrutura e espaço de produção

Se a gastronomia moderna nasceu nos palácios, foi na cozinha dos grandes hotéis que ela continuou a ser codificada, tendo Auguste Escoffier – pupilo do “cozinheiro dos reis”, Antoine Carême – como seu principal ator. Foi ele o responsável por estruturar as cozinhas de uma série de hotéis, inclusive em parceria com César Ritz, fundador da famosa rede de mesmo nome. Com a Revolução Francesa, os restaurantes migraram para as ruas e, com eles, alguns mestres. Séculos mais tarde, com a ascensão do ramo aliada ao turismo, chefs premiados voltam a ocupar os fogões e salões dos espaços de hospedagem, espantando, aos poucos, uma era de menus padronizados e food service.

O chef Luiz Filipe Souza – do paulistano Evvai, com uma estrela Michelin – acaba de inaugurar o Y no Hotel das Cataratas, A Belmond Hotel. Em Foz do Iguaçu, porta de entrada do Brasil para outros países – quinto destino mais procurado na América do Sul –, o desafio é elevar o restaurante de gastronomia brasileira ao patamar dos estabelecimentos locais.

“Em Foz você encontra bons italianos, árabes e churrascarias, mas dificilmente algo ligado à cultura local.” O local, ali, não se resume à cultura guarani, mas à promoção da economia e à biodiversidade. “‘Como trazer o Parque Nacional de Foz do Iguaçu para a mesa?’ Queremos promover atividades econômicas com os ribeirinhos, já utilizamos o mel de abelhas nativas que polinizam o parque e, na nossa horta, há plantas da Mata Atlântica.”

(Tadeu Brunelli/TBFoto)

Conceito é primordial

No Rosewood Hotel, em São Paulo, Felipe Bronze comanda o restaurante Taraz. Além da possibilidade de reunir grandes nomes em uma única operação, entre confeiteiros e sommeliers, a questão do conceito se sobressai em um lugar que reúne viajantes de todo o globo e que pretende sintetizar o continente. “O Taraz poderia estar em qualquer lugar do mundo como um representante da cultura latina, em termos de gastronomia, mas também de arte e música”, diz o chef do carioca Oro, com duas estrelas Michelin.

No mesmo complexo, a chef Bela Gil abrirá, em breve, o Preta Maria.

Wanderson Medeiros, das pousadas Zai e Haya, em São Miguel dos Milagres: menu sem repetição (Crédito:@ruinagaefotografia)

O movimento é crescente.

• Alex Atala está prestes a inaugurar o Resid, clube para 2.500 sócios com cinco hotéis e restaurantes pelo Brasil.

Há ainda Manu Buffara no Suryaa, no Hilton, no Paraná e Rafa Gomes no Tahí, no Mahré Hotel, em São Miguel dos Milagres, Alagoas.

Na mesma cidade, o veterano Wanderson Medeiros é o nome à frente dos cardápios das pousadas Zai e Haya. “Cada vez mais as pessoas escolhem onde se hospedar levando em consideração a experiência gastronômica, que acaba se tornando o principal ponto de divulgação de tais espaços.”

(@ruinagaefotografi)

Do térreo (com o Omí) ao topo (com o Fera Rooftop) do Fera Palace Hotel, em Salvador, a intenção dos chefs Fabrício Lemos e Lisiane Arouca é surpreender os frequentadores, sem deixar a Bahia de lado.

A excelência atrai de moradores que se hospedam em busca do café da manhã da chef a hóspedes que preferem um serviço de quarto 24h que foge a ceasar salad e ao croissant.

“O hotel se beneficia com nossa presença, porque elevamos o nível técnico de entrega, e nós ganhamos na estrutura, no espaço de produção, com um açougue, local para eventos. Ele nos dá mais possibilidade de trabalhar nossa arte”, diz Lemos.

Felipe Bronze, do Taraz, em São Paulo: hóspedes globais e profissionais de renome geram excelência (Crédito:Divulgação )
(Divulgação)