As fábulas fantásticas a respeito do fundo do mar são grandiosas e variadas. Desde o famoso romance do americano Herman Melville, sobre a caça à baleia branca Moby Dick, até a batalha épica do pescador cubano Santiago contra um Marlim gigante, em O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway, toda imaginação é possível. Para as pessoas afeitas à história e apreciadores de bebidas alcoólicas, uma descoberta realizada pela equipe de exploração marítima Ocean X é algo igualmente misterioso. Os caçadores de relíquias submersas encontraram 600 garrafas de conhaque e 300 de licor que datam da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). As bebidas foram retiradas de 77 metros de profundidade em águas internacionais entre a Suécia e a Finlândia.

TEMPO Apesar da deterioração dos rótulos, as bebidas podem estar em boas condições e valer milhões de dólares (Crédito:Divulgação)

Conta a lenda que essas bebidas tinham sido enviadas pela França como presente ao Império Russo, por causa da aliança da Tríplice Entente, que foi determinante para o sucesso durante a guerra. A navegação deveria acontecer em 1916, mas foi realizada em maio de 1917, por causa da enorme quantidade de gelo que cobria o Mar de Bótnia, que separa a Suécia da Finlândia. O caminho para transportar a carga foi escolhido porque o território sueco esteve neutro durante os conflitos. Assim, a encomenda que deveria ser degustada por Nicolau II, na antiga capital russa, Petrogrado, atual São Petersburgo, só foi retirada do fundo do mar em 2019. O ponto de virada da história foi o fato de que o navio a vapor, que levava as bebidas à Rússia, teve um encontro terrível: foi autuado e revistado por um submarino alemão, que, sem delongas, decidiu torpedeá-lo por considerar que parte da carga era contrabando. A parte positiva é que a tripulação foi transferida para um navio ancorado nas proximidades e conseguiu chegar à Suécia literalmente sã e salva.

Boa para consumo

A equipe de caçadores do mar Ocean X, especialista em vasculhar e recuperar preciosidades históricas, divulgou imagens das garrafas, além de contar que a missão durou vinte anos. Quando a nau foi a pique, várias partes da embarcação foram danificadas. Em 1999, os mergulhadores tiveram acesso aos destroços, mas só agora puderam utilizar os equipamentos subaquáticos e por as mãos no tesouro. Enfim, em 22 de outubro deste ano, a carga foi recuperada. O mais interessante da descoberta é saber que as bebidas podem estar em condições de consumo. Segundo Cesar Adames, professor do curso de Chef Internacional do SENAC São Paulo, é comum que equipes oceânicas encontrem garrafas raras de bebidas no fundo mar. “A grande questão é a identificação, porque os detalhes de rotulagem são danificados ao longo do tempo e se perdem”, explica.

Membros da Ocean X disseram que ainda não abriram as garrafas, mas que nem todas mantiveram as rolhas. As mais conservadas poderão valer milhões. O conhaque é da marca Haartman & Co, que atualmente pertence à empresa cubana Bacardi. Já a bebida levemente adocicada pertence ao rótulo Dom Benedictine , o licor mais antigo do mundo. “Primeiro temos que averiguar a vedação da garrafa, antes de fazermos os testes químicos e de sensibilização”. A curiosidade olfativa e gustativa é o que dá sabor a essa história.

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