O prestígio da tradicional marca de luxo Victoria´s Secret ruiu em meados de 2019 quando oficialmente os executivos anunciaram o cancelamento do desfile anual da marca. Na época, o programa tinha sido assistido por 3,3 milhões de pessoas – um número bem inferior aos mais de 9 milhões que assistiram o show cinco anos antes. Afetado principalmente pelo #MeToo pelo qual milhares de mulheres denunciaram situações de assédio e abuso sexual em todo o mundo, e pediram por mudanças na percepção do corpo feminino e dos padrões de beleza impostos às mulheres, o mundo fashion percebeu que precisava repensar seus exuberantes demonstrativos como algo mais inclusivo.

As famosas Angels (calma, não estamos falando de Camila Queiroz, muito menos de Verdades Secretas), magras e altas, que não representam a maior parcela das mulheres e, em um longínquo período, eram espelhos para jovens garotas que sonhavam seguir a carreira de modelo profissional, se tornaram antiquadas. De lá para cá, o mundo presenciou uma pandemia, os desfiles de moda ao redor do mundo foram cancelados. Na última semana, com a flexibilização das medidas de saúde, a Victoria´s Secret inovou e anunciou a contratação da primeira modelo com Síndrome de Down da marca.

Sofía Jirau, de 24 anos, é de Porto Rico, e participou da campanha da coleção Cloud Love Collection. “Dentro e fora, não há limites”, disse a jovem que chegou a posar com a tradicional lingerie da marca. Desde pequena, a garota tinha um sonho de ser modelo e empreendedora. Ela conseguiu conquistar os dois.

Além de se tornar modelo pela marca, Sofía é dona de sua própria linha de roupas e acessórios, conhecida como “Alavett”. O nome vem de sua maneira de pronunciar “I love it” (eu amo isso, em inglês). Com a “Alavett”, Sofía se destacou nas passarelas de Porto Rico e no final de 2020, fez sua estreia na New York Fashion Week. “Deixe o mundo inteiro me ver! E deixe a comunidade com Síndrome de Down saber que, como eu, eles podem realizar seus sonhos”, disse ela em entrevista recente.

Apesar da marca estar tentando se renovar – seja por vontade própria ou por espontânea pressão – , a contratação de Sofía gerou uma nova onda de críticas. Uma delas, porque a garota é branca, loira e de olhos claros, a outra, chama a marca de hipócrita ao contratar uma modelo com Síndrome de Down para desfilar, mas ao mesmo tempo, entrega um corpo com as mesmas características de suas antigas Angels, ou seja, magro, e continua não representando o corpo da maioria das mulheres, muito menos de outras com a mesma doença de Sofía.

Se o que importa, segundo a própria marca, é a realização dos sonhos, então, pode-se dizer que eles alcançaram isso com Sofía que está radiante. A garota afirmou que vai realizar os sonhos em breve: desfilar na França e Itália.

O diretor criativo da empresa, Raúl Martínez, não escondeu a alegria da nova coleção e disse que este “é o novo padrão” que a empresa busca atingir. Tudo indica que, mesmo com uma pandemia e a passagem de alguns anos, a empresa ainda não aprendeu o real significado de modernização.