Garimpeiros manuais de Paracatu passam pelas cercas e câmeras instaladas pela Kinross no Morro do Ouro, ignoram placas de advertência e tiram o lacre da tubulação de cimento por onde passam rejeitos tóxicos. Lá dentro, colocam pedaços de carpete na saída dos dejetos para tentar segurar ouro da sobra. Um deles foi Lucimar Justo, de 44 anos. Em outubro, ele e um colega, Ezequiel, de 25, estavam na tubulação chamada de manilha quando passaram mal. Bombeiros de Paracatu resgataram os dois, mas Lucimar não resistiu.

A mãe dele, Maria Justo, de 65 anos, relata que a família sempre garimpou na área. Quando menina, ela acompanhava parentes ao Morro do Ouro. A exemplo de outras famílias, dividiam o trabalho em lavouras de subsistência com o garimpo de aluvião. “Meu filho ia lá trabalhar para cuidar da família”, conta.

Em 23 de dezembro, o servente Ítalo de Almeida, de 24 anos, garimpava na área da Kinross quando foi atingido por gás. “Foi uma descarga violenta”, relata Tainá Santos, de 19, companheira dele. “Ele ia à mina sem falar comigo. Sabia que eu tinha medo.”

Em fevereiro do ano passado, Rafael Oliveira, de 25 anos, e Ezequiel Lopes, de 22, estavam numa manilha quando começaram a passar mal. Horas depois, estavam mortos.

A delegada Taís Regina afirma que esses garimpeiros cometeram “irregularidade, para não dizer um ilícito”. “A sociedade aqui não considera ilegal tirar ouro na mina. É uma questão cultural de parte da população, de não aceitar a concessão (dada pelo governo à mineradora).”

O gerente de Segurança Patrimonial da Kinross, Herbert Rodrigues, afirma que a área dos acidentes tem avisos de riscos e os mortos quebraram lacres de concreto para chegar às áreas confinadas, de pouco oxigênio. Também reclama de aumento da agressividade dos invasores. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.