Levantamento mostra que será necessário adquirir 334 novos aparelhos para aumentar a oferta e repor os que ficarão ultrapassados; 130 mil pacientes foram prejudicados pela falta de centros especializados em 2019

 

Por Alexandre Raith, da Agência Einstein

Insuficientes e obsoletos. Essa é a conclusão de um mapeamento realizado pela Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) sobre a situação dos equipamentos utilizados no tratamento contra o câncer no país. Segundo a entidade, será necessário aumentar em 29,6% o número de máquinas até 2030 para dar conta da demanda projetada para a próxima década.

De acordo com o levantamento, feito como parte do projeto RT2030, que busca tornar até 2030 o tratamento acessível a todos os brasileiros que tenham indicação clínica, o País tinha 409 máquinas em 2019, mas precisará de 530 no início da próxima década – 121 a mais. Além disso, 213 dos aparelhos existentes ficarão obsoletos até 2030 e deverão ser substituídos, o que indica, portanto, a necessidade de aquisição de 334 novos equipamentos até lá.

Para chegar ao cálculo de aumento da demanda, a entidade se baseou em um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que estima que, em 2030, 15% dos brasileiros terão mais de 65 anos, quase o dobro do número de 2010. Com este panorama, a SBRT prevê que, na próxima década, 640 mil pessoas terão algum tipo de câncer anualmente, excluindo os tumores de pele não melanoma. Dentre elas, 333 mil deverão receber indicação de radioterapia, um aumento de mais de 40% na demanda.

Os dados apresentados no mapeamento refletem o atual impacto negativo da defasagem de equipamentos na vida daqueles que necessitam de tratamento. “Calculamos em 130 mil o número de pacientes do SUS que deveriam ter feito radioterapia em 2019 e não o fizeram”, afirma Marcus Simões Castilho, radio-oncologista e presidente da SBRT.

“A radioterapia é indicada em quase 60% de todos os casos de câncer, em algum momento da evolução da doença. Pode ser usada tanto de forma curativa como paliativa. Não ter o tratamento disponível impacta negativamente a evolução clínica do paciente”, alerta Castilho.

Tumores de mama, próstata, colo de útero, boca, laringe, orofaringe, pele, cerebral, pulmão e reto, além das metástases, são alguns tipos que têm a radioterapia como um dos pilares do tratamento.

 

 

Distribuição desigual

O modo de distribuição desses aparelhos é outro problema apontado pelo presidente da SBRT. Segundo Castilho, somente 130 cidades brasileiras contam com serviços de radioterapia. Um levantamento da entidade divulgado no ano passado apontou que a média de deslocamento até o local mais próximo para um procedimento é de 76 quilômetros. No entanto, no Estado de São Paulo, a distância média é de 33 quilômetros, enquanto um paciente que mora em Roraima e no Acre precisa percorrer por volta de 1,5 mil quilômetros.

“É fato que é um tratamento de alta complexidade e deve estar integrado a outras estruturas médicas e hospitalares proporcionais. Porém, hoje a distribuição dessas máquinas atende a interesses muito mais políticos do que técnicos”, acredita. “O projeto (RT2030) defende uma organização estruturada destes serviços.”

A alta complexidade do tratamento exige profissionais capacitados – outra defasagem encontrada no mapeamento da SBRT. Com o aumento esperado na incidência de câncer, o projeto detectou que mais de mil médicos especialistas serão necessários em 2030.

Castilho afirma que a crise no setor tem diminuído o interesse pela especialização. “Isso pode virar um gargalo. Vemos a tecnologia como uma aliada para otimizar processos que estão cada vez mais sistematizados com computadores e equipamentos. O paradoxo é que o parque tecnológico brasileiro não vem acompanhando essa solução”, diz.

Mudança de cenário

No plano de desenvolvimento da radioterapia para a próxima década, a SBRT faz recomendações para melhorar esse cenário. Entre elas, a ampliação das parcerias público-privadas. O documento defende ainda a desburocratização do acesso e a compra de vagas pelo sistema público em serviços privados.

A entidade também sugere a reavaliação dos valores pagos pelo SUS aos centros que atendem pacientes da rede pública. “É inocente acreditar que, reembolsando menos da metade do custo associado, a estrutura se manterá íntegra para uma assistência adequada”, diz Castilho.

(Fonte: Agência Einstein)

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