O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta terça-feira que o cenário internacional tem sido o principal vetor para determinar os preços de mercado e que atualmente se está em uma nova fase que é a leitura do mercado sobre o governo de Donald Trump. A afirmação foi realizada em audiência pública da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal.
Galípolo frisou que a leitura que ele faz é a de como o mercado entende o governo, e que essa interpretação do governo Trump se deu em três etapas. Na primeira, correspondente ao último trimestre de 2024, havia uma leitura de que a nova gestão do republicano seria mais pró-mercado, com redução de impostos e regulamentação sobre empresas. Já no primeiro trimestre de 2025, a interpretação de que o impacto das mudanças tarifárias poderia desacelerar a economia americana e, por consequência, a economia global, foi ganhando força.
O presidente do BC explicou que essa corrente estendeu o entendimento para a possibilidade de desaceleração das tarifas, num cenário de muita incerteza sobre o que vai ocorrer, em virtude das idas e vindas das decisões do governo americano e seus desdobramentos. “Você tem dúvidas sobre o que vai ocorrer e quais são os efeitos sobre aquilo que vai ocorrer. Esse cenário foi ganhando força ao longo desse primeiro trimestre, o que sinalizou já uma ideia de um dólar mais fraco e uma atividade econômica mais fraca nos Estados Unidos”, disse.
No atual momento, Galípolo pondera que impera a interpretação que oscila entre a desaceleração em função da incerteza e um cenário de possível aversão ao risco, indicando uma escalada na disputa tarifária com consequências mais abruptas.
“Num cenário como esse, é comum que os investidores busquem se proteger com ativos mais líquidos e ativos que ofereçam menos risco. O que costuma já ser absolutamente desafiador para economias emergentes, quando isso acontece, não é positivo do ponto de vista da dinâmica econômica. Porém agora está num cenário ainda mais complexo, porque nós estamos falando de um cenário de aversão a risco, onde aquilo que é conhecido como o ativo de última instância, ou o ativo mais seguro da economia, está sendo um pouco questionado. Ou seja, historicamente, quando você tem um cenário de aversão de risco, o que você costuma fazer é correr para o dólar, ou correr para títulos soberanos norte-americanos”, explicou.
Ao iniciar sua fala, o presidente destacou que cabe à autoridade monetária explicar e dar transparência sobre o que faz. “Eu tenho sempre defendido que cabe à autoridade monetária explicar e dar cada vez mais transparência sobre o que faz e o porquê faz. Esse é um fórum absolutamente privilegiado para eu ter esse tipo de oportunidade. Agradeço demais ao presidente Renan Calheiros pela possibilidade de poder vir aqui explicar e também ouvir, não só falar, mas também ouvir, que é super importante para todos nós”, disse.