Gabriella Di Grecco desabafa sobre burnout: ‘Estamos na era de expectativas irreais’

Estrela de obras da Disney, atriz reflete sobre saúde mental

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Gabriella Di Grecco Foto: Divulgação

Artista cuiabana, Gabriella Di Grecco já se destacou como co-protagonista de “Bia”, do Disney Channel, que conquistou a América Latina, e como antagonista de “O Coro”, ao lado de Miguel Falabella. Mais recentemente, deu vida à Dixie Locke, o primeiro amor de Elvis Presley, no musical “Elvis: A Musical Revolution”, no Teatro Santander. Mas, fora dos holofotes, a atriz enfrentava um desafio que nenhuma personagem poderia resolver: a luta para se libertar da autocobrança excessiva, dos padrões inalcançáveis e para se reconectar com sua autenticidade.

“Por muito tempo, eu vivi para atender expectativas, fossem elas do público, da indústria ou até minhas próprias. Mas chegou um momento em que eu me perguntei: ‘Essa busca pela excelência não apenas no meu ofício, mas em dizer ‘sim’ para todas as demandas, diminuindo a importância do tempo para mim, ela é mesmo minha?’”, reflete Gabriella.

Parte dessa jornada também veio de encontro com sua transição capilar, um processo que durou três anos e culminou com o famoso “big chop”, que elimina toda a parte do cabelo alisada ou quimicamente tratada, deixando apenas os fios naturais: “Quando cortei o cabelo, foi como se estivesse cortando também tudo aquilo que não me pertencia mais. O big chop foi mais que um gesto físico, foi um ato de libertação. Cada mecha encaracolada que crescia, eu via como uma afirmação de quem eu sou de verdade”, conta.

Gabriella acredita que a busca incessante pela perfeição — seja na aparência ou no desempenho profissional — é um dos grandes vilões da saúde mental, especialmente em tempos de redes sociais: “Vivemos num mundo onde tudo parece perfeito o tempo todo nas redes sociais, especialmente porque grande parte das pessoas só mostram o recorte que querem. Mas a vida real não tem filtro, não tem edição e é importante lembrar disso”.

Atualmente, ela encara a beleza de forma mais ampla. Para a atriz, cuidar de si vai muito além de uma maquiagem impecável ou um corpo moldado na academia: “O brilho que a gente procura está dentro. Não adianta parecer bem por fora se, por dentro, você está carregando um peso insustentável. Minha caminhada foi sobre aprender a dizer ‘não’, respeitar meus limites e deixar de lado a necessidade de agradar todo mundo”.

Gabriella também reflete sobre os fatores externos que agravam a síndrome de burnout e os desafios de manter uma saúde mental equilibrada em uma sociedade que vive em constante aceleração.

“A crise financeira que afeta a geração millennial é um grande peso. Muitos de nós crescemos acreditando que, se seguíssemos o ‘caminho certo’, teríamos estabilidade financeira. Mas a realidade é que boa parte dessa geração se sente frustrada e presa em um ciclo de insegurança econômica”, pontua.

Além disso, a entrada da Geração Z no mercado de trabalho acontece em um momento de precarização em diversos setores, o que intensifica a competição e a ansiedade sobre o futuro.

Outro ponto importante é a dificuldade de acesso à moradia. Gabriella destaca: “O jovem de hoje não tem o mesmo poder aquisitivo que as gerações anteriores. Comprar uma casa ou até alugar um espaço em uma grande cidade se tornou quase inalcançável para muitos”.

Essa pressão se soma ao impacto das tecnologias, como a inteligência artificial e o scrolling infinito nas redes sociais, que acabam nos afastando da nossa essência e nos colocando em um ciclo interminável de comparação.

“Quando pensamos na quantidade de pessoas que existem no mundo, é fácil sentir que somos apenas mais um, principalmente num momento de precarização do trabalho e excesso de competitividade. Isso é avassalador. A natureza do ser humano não é competitiva, mas colaborativa, e, parece que no mercado de trabalho estamos nos afastando cada vez mais da nossa natureza”, reflete.

“Isso tem um impacto extremamente profundo na nossa saúde mental. Além disso, a era digital nos colocou em contato constante com milhões de pessoas e a comparação, além de inevitável, é extremamente cansativa”, complementa a artista.

Sua experiência com o burnout a fez refletir sobre o que significa ser mulher em um mundo tão cheio de expectativas. Ela conclui: “Nos fazem acreditar que seremos aceitas se seguirmos uma cartilha. A maior liberdade que conquistei foi entender que a vida é maior do que a vontade de atender todas as expectativas, é aí onde mora a nossa verdadeira beleza”.