Gabriela Duarte fala sobre a mãe, carreira, fim do casamento, monólogo e vida aos 50

Convidada do videocast 'IstoÉ Gente Entrevista', a atriz fala sobre sua atual fase profissional, a relação com a mãe, Regina Duarte, e a vida pessoal

Após quase 35 anos de trajetória na TV Globo, Gabriela Duarte, 51 anos, abre o coração em uma conversa franca no videocast IstoÉ Gente Entrevista. Em um momento de reflexão, ela revisita sua trajetória profissional — das icônicas novelas às primeiras escolhas livres das sombras da mãe, a lendária Regina Duarte. Gabriela fala abertamente sobre o fim de seu casamento de duas décadas, apontando essa virada como parte essencial da sua busca por identidade.

Em conversa com a apresentadora Letícia Sena, ela também destaca seu atual trabalho no monólogo “O Papel de Parede Amarelo e Eu”, que marca sua estreia solo no teatro e a coragem de romper com a zona de conforto.

Carreira e como tudo começou

Seu primeiro trabalho foi aos 9 anos, nos filmes O Cangaceiro Trapalhão e O Trapalhão na Arca de Noé. Estreou na TV na minissérie Colônia Cecília (TV Bandeirantes), interpretando Bianca Rivas. Pouco depois, transferiu-se para a Globo, onde participou do concurso no Domingão do Faustão e foi escalada para a novela Top Model (1989), vivendo a personagem Olívia. Desde então, Gabriela consolidou-se com diversos papéis em novelas, séries, cinema e teatro, somando mais de 30 anos de carreira.

“Minha carreira começou de uma forma até inusitada. Estou escrevendo um livro — que sai agora no segundo semestre — e conto essa história nele. Começou quase como uma brincadeira entre amigas. Eu e a Renata Castro Barbosa, minha amiga de muitos anos (inclusive temos um podcast juntas, o Pod Amiga), estudávamos na mesma escola no Rio. Um dia, ela me chamou para fazer um curso de teatro que a Globo estava oferecendo. E foi ela quem me avisou! A madrasta dela, a Rô, era produtora de elenco lá, então sabia dessas coisas antes da minha mãe, que vivia nos estúdios, na correria.

Eu topei e a gente começou a ir para o curso uma ou duas vezes por semana. No fim, todo mundo fez um teste para entrar em algum projeto da Globo. Eu passei para Top Model, em 1989. A Renata passou para Tieta. Ou seja, deu tudo certo! Cada uma foi para uma produção, e foi assim que tudo começou.”

Sucesso como protagonista da novela ‘Por Amor’

Em 1997, Gabriela Duarte alcançou grande visibilidade ao protagonizar a novela ‘Por Amor’, escrita por Manoel Carlos e exibida pela TV Globo. Ela interpretou Maria Eduarda, filha de Helena, papel de sua mãe na vida real, Regina Duarte.

A parceria entre Gabriela e Regina foi marcante. Gabriela declarou que “a gente se entendia no olhar” e que não terá outra parceira de cena igual.

“Foi muito intensa! Eu tinha 21 anos e, naquela época, voltamos a morar juntas no Rio por causa da novela. A convivência foi bem próxima, com tudo o que isso envolve. Mas minha mãe nunca foi de cobrar. Ela sempre me deixou ser quem eu era. A gente tinha (e tem) uma relação de muita cumplicidade.”

Gabriela Duarte fala sobre a mãe, carreira, fim do casamento, monólogo e vida aos 50

Contra ou a favor dos remakes?

Nos últimos tempos, a TV Globo tem investido na produção de remakes. A tendência tem se consolidado nos últimos anos, com a emissora apostando em novas versões de sucessos do passado para atrair tanto o público nostálgico quanto novas gerações.

Depois de Pantanal (1990 e 2022), Renascer (1993 e 2024) e Vale Tudo (1988), que está no ar, Gabriela Duarte comentou como vê hoje o cenário artístico e as novelas, e falou o que acha de um possível remake de Por Amor, além de dizer se toparia fazer uma segunda versão.

“Pantanal foi incrível! Eu amei. Mas acho que Por Amor é uma exceção. Reprisou tantas vezes, inclusive fora do Brasil — na Rússia, por exemplo, é reprisada todo ano! Já está muito viva na memória das pessoas. Então, não sei se precisaria de um remake. Mas acho que cada caso é um caso.”

Fim do contrato com a Globo

Gabriela Duarte encerrou seu contrato fixo com a Globo em março de 2023, após 35 anos de parceria com a emissora. A decisão foi anunciada em 20 de março de 2023, com a empresa optando por não renovar contratos de longa duração com vários artistas veteranos.

A atriz comentou como vê esse novo momento da TV e os novos formatos de contrato.

“Vejo com muita naturalidade. A vida é feita de ciclos. O mundo mudou, a forma de consumir histórias mudou. O streaming está em alta, e isso também impacta as novelas. Estou muito feliz com essa nova fase, inclusive com meu irmão João dirigindo a série Guerreiros do Sol, no Globoplay. Um orgulho!”

Relação com a mãe X política

A relação de Gabriela Duarte com a política, especialmente em relação à sua mãe, Regina Duarte, é marcada por diferentes posições e percepções públicas. Regina Duarte, atriz icônica da televisão brasileira, teve um envolvimento político mais explícito nos últimos anos, chegando a assumir um cargo no governo federal durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, o que gerou bastante repercussão e controvérsia.

Gabriela, por sua vez, mantém uma postura mais reservada em relação à política.

“Foi difícil. Um momento espinhoso, principalmente por conta da polarização. Mas eu nunca quis transformar minha relação familiar em debate político. Minha questão sempre foi humanitária, não partidária. Eu defendo o acolhimento, a educação, a saúde. E mesmo com as divergências, minha mãe é minha mãe.”

Questionada sobre o termo nepobaby, uma abreviação da expressão em inglês nepotism baby, que significa literalmente “bebê do nepotismo”, popularizada nas redes sociais para se referir a filhos de pessoas famosas ou influentes — especialmente no meio artístico — que acabam tendo vantagens ou oportunidades em suas carreiras por causa da fama, conexões ou influência dos pais ou familiares, Gabriela diz se isso se aplicou a ela por ser filha de uma atriz consagradíssima como Regina Duarte.

“Já ouvi o termo, claro. Acho que a melhor forma de explicar minha relação com isso é dizer que estou escrevendo um livro sobre identidade. Sempre fugi dessa associação com minha mãe, não por negação, mas por curiosidade sobre mim mesma. Eu queria entender quem sou eu, quem é ela e como essa relação se sustenta — e ela se sustenta, até sob bomba atômica! (risos)”

Gabriela Duarte fala sobre a mãe, carreira, fim do casamento, monólogo e vida aos 50

Gabriela e Regina Duarte

Fim do casamento de 20 anos

Gabriela Duarte anunciou, em 2023, o fim de seu casamento de 20 anos com o fotógrafo Jairo Goldflus. A atriz revelou a separação de forma discreta e madura, enfatizando que a decisão foi tomada em comum acordo e com muito respeito mútuo. Os dois são pais de Manuela, de 18 anos, e Frederico, de 13.

Na entrevista, a atriz destacou que os dois mantêm uma boa relação e aproveitou para desmentir algumas notícias divulgadas na imprensa sobre o fim do casamento.

“Foi delicado. Sempre fui reservada, mas quando decidi falar, queria que fosse de forma respeitosa. Algumas manchetes distorceram minhas falas, e isso me entristeceu. Foram 20 anos de casamento, com filhos. Não foi sobre libertação ou sofrimento — foi uma história que valeu a pena. Continuamos amigos, e eu não gosto de expor minha vida pessoal. Só compartilho quando acho que pode ajudar alguém.”

Fase atual da carreira

Gabriela Duarte vive um momento marcante e transformador em sua carreira, estreando aos 50 anos seu primeiro monólogo, “O Papel de Parede Amarelo e Eu”, em cartaz no Teatro FAAP, localizado em Higienópolis, São Paulo, às terças e quartas, às 20h, até o final de julho.

Após quase quatro décadas nas novelas e no teatro, Gabriela optou por algo desafiador e pessoal: entrar no palco sozinha e contar uma história visceral. Baseada no clássico de 1892, de Charlotte Perkins Gilman, a montagem traz uma leitura atual sobre opressão e saúde mental, ressoando com a trajetória pessoal da atriz e com a realidade de muitas mulheres hoje.

A peça mistura teatro essencial, teatro físico, dança e mímica, com expressão corporal intensa. A preparação envolveu treinamento físico e vocal para dar vida a esse texto-labirinto.

Sob a direção de Alessandra Maestrini e Denise Stoklos, referências no teatro físico e essencial, o espetáculo ganha dimensão política e estética — com humor e leveza — criando um ambiente simbólico de prisão e libertação.

“Um desafio novo, mas que me trouxe muito crescimento. A peça trata de feminismo e saúde mental, com humor e muita sensibilidade. Dirigida pela Alessandra Maestrini e pela Denise Stoklos, é uma junção de forças femininas para falar de algo muito atual, baseado num conto de 1892. É um trabalho que me emociona muito.”

Gabriela Duarte fala sobre a mãe, carreira, fim do casamento, monólogo e vida aos 50

Vida depois dos 50 anos

Com 51 anos, Gabriela Duarte também falou sobre menopausa e etarismo — discriminação e preconceito contra pessoas com idade mais avançada.

“Comecei a sentir os efeitos da menopausa aos 49. Foi assustador no início, mas hoje está melhor. O mais importante é buscar ajuda médica. É um processo fisiológico e precisa ser tratado com informação, sem tabus. Terapia ajuda, claro, mas é essencial conversar com seu ginecologista.”

Sobre o etarismo, revelou que já sofreu na pele:

“Senti o impacto desde que me tornei mãe. Acho que, no Brasil, mulher com filho já é vista como ‘mais velha’. Fiz menos TV desde então, mas segui fazendo teatro, estudando e vivendo experiências, como morar fora. Continuo aberta a novos projetos, inclusive na TV. Só depende da proposta e da logística — moro em São Paulo, meus filhos estudam aqui.”