16/11/2024 - 10:00
Nascida na Venezuela, a atriz Gabriela Dias vem se destacando na televisão brasileira. Aos 25 anos, ela compõe o elenco da novela das 19h, “Volta por Cima”, da Globo, interpretando a Miranda, que sente vergonha de suas origens humildes e tenta se passar por uma garota da zona sul do Rio de Janeiro, refletindo as pressões sociais que muitos enfrentam em busca de aceitação e reconhecimento.
Em entrevista ao site IstoÉ Gente, Gabi refletiu sobre a sua personagem na trama e explicou que as atitudes dela e a forma como ela é vista pelos demais na ficção é um reflexo do racismo da vida real.
“Tenho uma impressão de que ela é muito ambiciosa, primeiramente. A história da Miranda é que ela estudou em um colégio particular através de uma bolsa. Então ela vem de um mundo, de realidades completamente diferentes. É um paralelo muito confuso. Dentro da visão de uma jovem preta. Eu estudei eu um colégio particular também, através de uma bolsa. Então eu sabia muito bem como aquele sistema estava me olhando. Eu sentia como as pessoas me enxergavam. Então, a Miranda passa por esse processo racial também”, declarou.
“E quando ela se torna uma mulher adulta, ela tem contradições por conta do racismo, que é um fato, e começa a ter vergonha da sua origem, porque no colégio diziam que ela fazia parte daquilo, mas também diziam que ela não fazia parte. Então, ela fica nesse lugar de eu tenho vergonha porque acha que pode fazer parte da zona sul, porque eu acho que ela não tem essa noção que é uma questão racial na cabeça dela”, detalhou.
Ao ser questionada sobre como o público da TV aberta poderia receber essa personagem e a julgar como arrogante – traço do racismo, que coloca pessoas negras em lugares limitados -, Gabriela refletiu:
“Eu acho que o diálogo e a conversa são muito importantes, porque a gente está trazendo questões muito reais, questões do Brasil. É a realidade do Brasil, não só do Brasil, como do mundo todo. A partir do momento que começarem a surgir essas questões da Miranda, essa contradição, o diálogo vai ser muito importante e ter especialistas falando sobre esse tema”, destacou a atriz, que é filha de Kenia Maria, uma atriz e escritora defensora das mulheres negras da ONU.
“Esse tipo de assunto, de conversa, eu tive a minha vida toda com a minha mãe. A gente falou sobre essa questão, sobre esse estudo, sobre o racismo, sobre essas questões do jovem que tem vergonha da sua origem, do outro jovem que não tem vergonha. Acho que para o público o diálogo é importante. E eu, como a representante da Miranda, é o meu dever falar sobre isso e conversar com esse povo, com essas pessoas que não entendem ou que não enxergam e que vão falar que ela é arrogante”, afirmou a artista, que saiu em defesa da personagem.
“[Não é arrogância]. Existe uma outra questão psicológica e social dentro disso. Mas também, essas atitudes dela podem ser, sim, uma escolha dela – não podemos colocar todo mundo no mesmo lugar, pessoas negras são diversas, a gente não pode esquecer disso. Um vai ter a opinião X, outro vai ter a opinião Y, e é isso”, ponderou.
Ao ser perguntada sobre uma situação em que deu a volta por cima na vida real – fazendo um trocadilho com o nome da novela -, Gabi contou que se tornar mãe mudou tudo na sua vida.
“Eu sempre tive um desejo enorme de ser mãe, e hoje eu sou do Ayo, de 4 anos. Eu pretendia ser mãe um pouco mais velha e acabei sendo mãe um pouco mais jovem. E logo em seguida veio a pandemia. E eu, artista, mulher preta, meu companheiro [Rômulo Weber], que também é ator, no meio da pandemia, tendo um filho e voltando a trabalhar um ano depois da pandemia… essa foi a minha maior volta por cima”, relembrou.
Gabriela Dias se mudou para o Brasil aos 10 anos de idade. A partir daí, ela teve de conviver com os desafios do idioma no país.
“Meus pais são brasileiros, mas fui alfabetizada em espanhol e em casa falava portunhol [risos]”, afirmou ela, que explicou a origem da sua família.
“Meus pais são do Rio e meu pai era jogador de futebol, ex-atleta, hoje em dia, e na época chamaram ele para jogar fora. Ele foi com minha mãe e meu irmão mais velho, Matheus, para o Chile, Peru, Equador, e depois foram para Venezuela, foi quando minha mãe engravidou de mim”, explicou ela, que desde pequena foi influenciada artisticamente pela genitora.
“Eu sempre estive no meio da dança, minha mãe, na época que a gente morava na Venezuela, era professora de dança do ventre e eu fazia dança do ventre também. Quando vim para o Brasil, comecei a fazer dança de salão: forró, zouk, samba no pé, tudo. Fiz durante anos hip-hop, estileto. E sempre tive essa paixão com a arte no geral, especificamente dança e atuação”, disse a atriz, que foi Musa da escola de samba Unidos da Tijuca, em 2018.