O gabinete ministerial do novo presidente de esquerda Pedro Castillo comparece nesta quinta-feira (26) ao Congresso do Peru, dominado pela oposição de direita, em busca de um voto de confiança que lhe permita continuar no cargo.

Este é o primeiro teste para o governo de Castillo, que assumiu o cargo há um mês, após cinco anos de embates entre Executivo e Legislativo. A incerteza política levanta nuvens sobre a economia peruana, que tenta deixar para trás os efeitos nocivos da pandemia.

A sessão foi aberta pela chefe do Congresso unicameral, a opositora María del Carmen Alva, que imediatamente deu a palavra ao chefe de gabinete de Castillo, Guido Bellido, enquanto nas ruas próximas houve manifestações de grupos pró-governo e de oposição.

“Viemos à Câmara não só para pedir um voto de confiança […], mas para [pedir] que afastemos nossas diferenças para resolver uma das mais graves crises políticas, econômicas e de saúde das últimas décadas”, disse Bellido, um engenheiro e parlamentar de esquerda de 41 anos, cuja nomeação como chefe de Gabinete foi amplamente questionada pela oposição.

Bellido, natural da região andina de Cusco -a capital do antigo império inca-, começou a apresentar os planos do novo governo falando em quíchua e aimará, línguas ancestrais que ainda são faladas por cerca de cinco milhões de 33 milhões de peruanos.

Isso levou Alva a interrompê-lo e pedir-lhe que falasse apenas em espanhol para que todos os 124 legisladores presentes pudessem entendê-lo.

“Nosso governo não tenta copiar os modelos adotados em outros países”, disse Bellido em uma alusão tácita aos que os acusam de fazer parte do chamado “socialismo do século 21” da Venezuela e da Bolívia.

“Nossos objetivos imediatos são combater a pandemia de covid-19 e reativar nossa economia”, acrescentou.

-Primeira baixa –

As disputas entre o novo governo e a oposição já custaram o cargo do ministro das Relações Exteriores, Héctor Béjar. Ele foi substituído por Óscar Maúrtua, diplomata de carreira sem laços com a esquerda que já havia ocupado o posto há 15 anos.

Os rivais de Castillo esperavam, no entanto, que ele fizesse mais mudanças em seu gabinete de 19 membros antes de se submeter ao voto de confiança – algo que o presidente rejeitou.

A Constituição peruana estipula que os novos gabinetes devem receber o voto de confiança do Congresso 30 dias após sua nomeação.

Se negado, Castillo terá de nomear outro primeiro-ministro, em substituição a Guido Bellido, e reorganizar o gabinete, prolongando a incerteza.

O apoio a Castillo caiu para 38% em seu primeiro mês no cargo, contra 53% antes de sua posse, em 28 de julho, de acordo com uma pesquisa do Instituto de Estudos Peruanos.