Os presidentes americano, Donald Trump, e chinês, Xi Jinping, se encontrarão pessoalmente neste sábado (1) em Buenos Aires à margem da cúpula do G20, marcada por graves divisões por “problemas” no comércio e clima.
O comunicado final dos líderes das 20 principais economias do mundo, reunidas desde sexta-feira, evocou os “problemas no comércio”, sem condenar nem mencionar o protecionismo, o tema mais delicado na “guerra comercial” entre Estados Unidos e China.
E, se isso não mudar, haverá consequências para a economia mundial, segundo advertiu a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. Temos a “necessidade urgente de suavizar as tensões comerciais, voltar atrás nos recentes aumentos de tarifas e modernizar o sistema de comércio multilateral”, destacou.
“As tensões comerciais começaram a ter repercussões negativas, o que aumenta os riscos a baixas”, afirmou Lagarde. O FMI já advertiu que, em curto prazo, o PIB mundial poderia sofrer uma redução de 0,75% para 2020 se as restrições ao comércio continuarem.
O texto admitiu que o sistema comercial multilateral “falhou em seus objetivos” e destacou a necessidade de reformar a Organização Mundial do Comércio.
– O clima –
Todos os chefes de Estado e de Governo do G20, embora com a exceção dos Estados Unidos, como era esperado, se comprometeram em alcançar os objetivos do Acordo de Paris para enfrentar o aquecimento global.
“Os signatários do Acordo de Paris, que também adotaram o Plano de Ação de Hamburgo, reafirmaram que o Acordo de Paris é irreversível e se comprometeram com sua implementação”, assinala o comunicado.
Contudo, os Estados Unidos deixaram assentada na declaração final assinada neste sábado a sua decisão de sair do Acordo.
O presidente americano, que coloca em dúvida a mudança climática, retirou seu país dos acordos ambientais de Paris em junho de 2017, pouco depois de chegar à Casa Branca.
– Uma cúpula de diferenças –
O ponto mais alto desta cúpula ocorre esta tarde, quando Trump e Xi se sentarão frente a frente. Mas é difícil que os dois líderes das maiores potências mundiais conciliem as suas diferenças.
Uma “guerra comercial” começou quando Trump impôs tarifas que chegaram a 300 bilhões de dólares de importações, dos quais 250 bilhões de dólares correspondiam a produtos chineses.
A próxima série de medidas está prevista para 1° de janeiro, quando as tarifas dos Estados Unidos sobre importações chinesas de 200 bilhões de dólares poderiam subir de 10% a 25% se não houver acordo.
Antes de deixar Washington, Trump disse ver “bons sinais” nas relações comerciais com a China, mas se mostrou reticente a um acordo. “Acho que estamos muito perto de fazer algo com a China, mas não sei se quero”, expressou.
Em seu discurso ante os demais líderes, o presidente chinês enviou uma clara mensagem: os membros do G20 devem “apoiar o sistema comercial multilateral”.
Devemos multiplicar as consultas “para alcançar um progresso gradual ao invés de impor posturas aos demais”, afirmou.
Durante anos os Estados Unidos acusaram a China de manipular a sua moeda, o yuan, para tornar os seus produtos mais competitivos.
Com a chega de Trump à Casa Branca e suas medidas protecionistas, o governo americano passou à ação. Mas o déficit comercial com a China continua se aprofundando.
Em setembro, chegou a um nível recorde. Do total de 54 bilhões de dólares no vermelho, 37,400 corresponderam aos intercâmbios com a China.
Ao longo do ano, o déficit comercial americano registrava um aumento de 10,1%, a 445,160 bilhões de dólares, segundo dados do Departamento de Comércio.
– Divisões –
As divisões são cada vez mais visíveis entre estes líderes, com vários convidados incômodos.
Trump suspendeu uma reunião com o presidente russo, Vladimir Putin, depois que forças russas pegaram a tripulação de três navios militares ucranianos em frente à costa da Crimeia.
Mas a reunião também foi cancelada em meio à polêmica nos Estados Unidos por novas revelações na investigação sobre uma suposta ingerência da Rússia na campanha presidencial americana de 2016.
Sob os holofotes também esteve o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi. A Justiça argentina iniciou uma investigação, que dificilmente terá consequências, sobre este caso, em instâncias de organizações de direitos humanos.
O ambiente no segundo e último dia da cúpula foi de reserva, muito diferente da primeira reunião do fórum, 10 anos atrás, em Washington.
“O sol continua brilhando, mas nuvens negras estão chegando e alguns de nós já estamos sentindo as gotas caindo”, disse à imprensa um funcionário europeu.
– Homenagem a Bush –
A notícia da morte do ex-presidente americano George H. W. Bush, aos 94 anos, fez com que todos os líderes convergissem ao redor de sua figura.
Trump – que assegurou que irá comparecer aos funerais – elogiou a sua “liderança inquebrantável” durante o final da Guerra Fria. Também o fizeram o presidente francês, Emmanuel Macron, e a primeira-ministra britânica, Theresa May.