Respeito várias máximas (cotidianas) e leis da natureza. Por exemplo: misturar manga com leite não mata, mas cerveja vagabunda com vodka de quinta é óbito na certa. Outra: jamais discuta com sua mulher quando você está certo, o efeito é o mesmo que quando você está errado. E a mais importante: nunca, em tempo algum, dê conselhos financeiros a quem é mais rico que você. A não ser que o assunto seja futebol, hehehe.

Quem sou eu para ensinar o Ronaldo Fenômeno a ganhar dinheiro, mas posso tentar ensinar a torcida do Cruzeiro a pensar, fazer contas e reclamar, não apenas do novos raposão e raposinho, ou do novo treinador, mas do futuro do clube – e olha que sou atleticano e quero mais é que o meu rival se exploda! Mas, na boa, deixando a zueira de lado, chega a ser escandalosa a adesão celeste à tal Libra.

LFF x LIBRA

Um estudo minucioso – e tecnicamente perfeito! – elaborado pelo J Américo, PhD em finanças dos bons e vascaíno fanático, mostra a discrepância que eu, um semianalfabeto de pai e mãe, já havia apontado em minha coluna anterior sobre o assunto – a diferença brutal de distribuição de dinheiro em favor de Flamengo e Corinthians, em detrimento do empobrecimento anual dos demais clubes brasileiros.

O estudo, para ser entendido em toda a sua plenitude, exige que o leitor seja prêmio Nobel de economia, no mínimo. Por isso, deixo aqui o link e sugiro que todos leiam, ainda que apenas para se sentirem bem burrinhos, como eu. Mas a leitura final, ou melhor, a conclusão é uma só e incontestável: os dois modelos em avaliação guerreiam entre receita (de curto prazo) e competitividade (de longo prazo).

RICO MAIS RICO

No modelo da Libra, o Cruzeiro de Ronaldo, ou o Galo e qualquer outro time que não seja, especificamente, no caso, o Flamengo, passará o resto da vida ganhando – em valor presente – praticamente a mesma coisa, vença ou perca, chova ou faça sol, com ou sem covid (isola!!). Enquanto isso, progressivamente, ano após ano, sob as mesmas métricas, o Flamengo enriquece e aumenta seu faturamento.

Se hoje, por exemplo, a diferença entre o rubro-negro carioca e, sei lá, o São Paulo for de 60% a favor do Fla, em dez anos isso se tornará próximo de 240%. O torcedor são paulino, ao analisar o faturamento previsto para seu time no modelo da Libra, dirá que ele é muito semelhante ao da LFF, e é verdade. Porém, e isso é o que importará em 2033, é que neste modelo a diferença, na pior das hipóteses, não ultrapassará 100%.

ADEUS, TÍTULOS

Os porcentuais são estimados, claro, mas seguem a regra da projeção prevista entre os dois modelos. Enquanto na LFF os times se aproximam em faturamento e crescimento de receitas, na Libra, apenas a primeira premissa é verdadeira. Com o passar do tempo, o Flamengo – e o Corinthians, ainda que em menor expressão – abrirá uma distância tão grande dos demais, que será simplesmente imbatível.

Eu não sei quanto a você, leitor amigo, leitora amiga, mas gosto de ganhar títulos e gritar “é campeão” de vez em quando. Não me contento em ter um clube, digamos, de classe média, enquanto meu vizinho é super hiper ultra mega milionário. E não por inveja, mas por desejo de competir e poder vencer também. Entrar em todos os campeonatos, sabendo que não irei ganhar, me tira completamente o gosto pela torcida.

PENTACAMPEÃO POBRE

Já disse e repito: sou analfabeto e não quero ensinar nenhum ricaço a ganhar dinheiro, mas, pô, será tão difícil assim perceber que um jogo de cartas marcadas se tornará, ao longo dos anos, um produto (campeonato) menos valorizado, e que, ao final, o dinheiro de curto prazo se esvaiu no decorrer dos anos? Sério mesmo que não enxergam que os 200 milhões de reais hoje serão os mesmos de amanhã, contra os 600 milhões de reais do Fla?

O modelo da Libra é tão escandalosamente perverso em relação a 99.999% dos clubes – o 0.001% vocês já sabem quem é, né? – , que mesmo o seu time, ou o meu, ganhando tudo, o que será impossível diante do poderio financeiro do Flamengo, a diferença de receita não diminuirá, acreditam? Sim, se o seu time for campeão brasileiro por 5 anos seguidos e o Fla se mantiver entre os três primeiros colocados, ainda assim vocês serão mais pobres.

PONTAPÉ INICIAL

De partida, já que comecei falando do Cruzeiro, a diferença de receitas entre ele e o Flamengo é de 49 milhões de reais, no modelo da LFF. Agora, senta aí torcedor rival: no modelo da Libra, a diferença é de… 147 milhões de reais. Sim, cruzeirense, 100 milhões de reais a mais para o Fla. E hoje! Porque isso aumentará progressivamente a cada ano. O Ronaldo ficará feliz ganhando dinheiro, beleza, mas você ficará feliz não ganhando títulos?

O amigo gremista pode ter de esquecer o que é gritar “campeão”. Pela LFF, hoje, a diferença em desfavor ao Flamengo seria de 35 milhões de reais, perfeitamente contornável com boa administração, boas escolhas de atletas, alguma sorte e o VAR vigiando (sempre, né?), mas se o tricolor gaúcho optar pela Libra, a diferença subirá para 132 milhões de reais. Como concorrer na contratação e manutenção de jogadores?

VIDA OU MORTE

Eu não sei o seu clube, mas o meu, o Clube Atlético Mineiro convocou uma assembleia com seus conselheiros, para apresentar as propostas, debater os números e deixar a critério destes (os conselheiros) a escolha do melhor modelo, se Libra ou LFF. Curiosamente, o mesmo movimento não se verifica em outros grandes clubes que hoje alinham-se com a proposta da Libra. Por isso, fique de olho, conselheiro! Fique de olho, torcedor!

O futebol brasileiro aproxima-se de um ponto de inflexão e a escolha tomada ou elevará ou rebaixará, muito mais que o campeonato nacional como um todo, o seu clube de coração. Pergunte ao mundo qual a melhor e mais valorizada liga, e saberá que é a Premier League, da Inglaterra. Agora, compare os modelos da LFF e da Libra, e não se surpreenda ao saber que um (LFF) é mais próximo que o outro (Libra). Alguém poderia, afinal, me dizer qual é a dúvida dos clubes, caramba?