O futebol voltou aos gramados da Alemanha neste sábado (16), e as praias de França e Grécia recebem seus primeiros visitantes, ansiosos para esquecer, por alguns momentos, um mundo paralisado por uma pandemia que deixou mais de 305.000 mortos.

A liga alemã é o primeiro campeonato importante a ser retomado após semanas de confinamento e acontece sem público, em cinco estádios do país.

O apito do início do jogo soou no horário previsto, às 10h30 (em Brasília), nos estádios vazios de cinco cidades – um experimento que será acompanhado com expectativa.

“O mundo inteiro está nos observando”, disse o técnico do Bayern de Munique, Hansi Flick, consciente de que “pode ser um sinal para todas as outras ligas”.

Não houve apertos de mãos entre as equipes, nem cerimônia, nem música. E, alguns jogadores, como os do Leizpig, ficaram de máscara durante o aquecimento.

“Mais valem partidas a portas fechadas para conter o avanço da epidemia do que uma catástrofe sanitária”, disse Nicole Bartelt, de 44 anos, torcedora do Dortmund.

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– ‘Respeitem as distâncias’ –

Já os franceses aproveitam seu primeiro final de semana com liberdade, desde que dentro de até 100 quilômetros de sua residência e respeitando os regulamentos de distância e de higiene.

Aproveitando o sol, muitos parisienses decidiram ir às florestas perto de Paris para respirar e apreciar um pouco da natureza.

Vários locais turísticos emblemáticos, como o Mont Saint-Michel, ou o santuário de Lourdes, abriram neste sábado. O ingresso é permitido apenas para visitantes locais, devido às restrições de movimento no país, onde mais de 27.500 pessoas já morreram de coronavírus.

As praias também estão liberadas para a prática de esportes individuais e caminhadas – nunca em grupo. Tomar banhos de sol e fazer piqueniques na areia continuam sendo prazeres indisponíveis no momento.

François e Géraldine – ele, aposentado, e ela, consultora – deram suas primeiras braçadas na água, em Saint-Malo (noroeste).

“É como um sentimento de liberdade. Você vê as pessoas felizes”, comentou François.

Mais ao sul, a Grécia reabriu suas 515 praias particulares, também com a condição de que regras estritas sejam respeitadas. Entre elas, manter uma distância de pelo menos quatro metros do guarda-sol vizinho. As praias públicas haviam sido reabertas em 4 de maio, primeiro dia do desconfinamento gradual no país.

Na praia de Kavuri, essa distância não parecia estar sendo muito observada pelos frequentadores.

“Respeitem as distâncias de segurança”, repetia um alto-falante.

“Está cheio de gente, mas estamos conscientes da situação e temos cuidado”, assegurou o salva-vidas de plantão Vassilis Demetis, de 36 anos.


– Distância, desinfecção e álcool –

Na Itália, o terceiro país do mundo mais afetado pela pandemia, com um saldo de 31.600 mortes e onde o turismo é uma renda essencial, a costa também se prepara para receber visitantes com todas as medidas de precaução possíveis – distância, desinfecção de áreas comuns, ou distribuidores de álcool em gel.

Para visitar a Catedral de Florença, os responsáveis pelo monumento criaram um colar que emite um sinal acústico, se o visitante se aproximar de outra pessoa a menos de dois metros.

A Basílica de São Pedro, no Vaticano, será aberta na segunda-feira. Hoje, o governo anunciou que todas as suas fronteiras estarão abertas aos cidadãos da União Europeia (UE), a partir de 3 de junho, e sem a obrigação de permanecer 14 dias em quarentena ao chegarem ao país.

A Alemanha fará o mesmo em 15 de junho, embora já tenha aberto sua fronteira com o Luxemburgo neste sábado e facilitado as condições de passagem nas travessias com Áustria e Suíça.

A Espanha, que já iniciou o desconfinamento, não abandonou a cautela. O presidente Pedro Sánchez anunciou que pedirá ao Congresso uma extensão de mais um mês do estado de emergência.

– Chile na quarentena –

A situação é muito diferente na América Latina, onde a pandemia não para e já deixou 27.000 mortos e 476.000 infecções. Os sete milhões de habitantes de Santiago, no Chile, iniciaram um confinamento total na sexta-feira, diante dos novos casos registrados nos últimos dias.

As ruas da capital estavam vazias ao anoitecer, e 14.000 funcionários das forças de segurança estavam mobilizados para monitorar o respeito ao toque de recolher nacional.

No país, foram registradas até agora quase 40.000 casos de coronavírus e 394 óbitos. Nos últimos dias, o número de novos casos saltou de cerca de 500 por dia para quase 1.000, levando as autoridades a endurecer as restrições.

“Estamos entrando no estágio mais difícil, onde são necessários maior solidariedade, maior controle um do outro. Por favor, use a máscara, não saia nesta situação”, implorou o ministro da Saúde, Jaime Mañalich.

No Brasil, o país latino-americano mais atingido pela COVID-19, com 202.000 casos e quase 14.000 mortes, o ministro da Saúde, o oncologista Nelson Teich, deixou o cargo por “incompatibilidades” com o presidente Jair Bolsonaro sobre os protocolos a serem adotados na luta contra a pandemia.


De acordo com especialistas, o número de casos pode ser até 15 vezes maior, em um país sem uma ampla campanha de testes de detecção em massa.

O presidente colombiano, Iván Duque, anunciou ter alcançado vários acordos com o Brasil para lutarem juntos contra a pandemia na fronteira que compartilham na Amazônia. Entre eles, há cooperação militar e de saúde para prevenir infecções nessa região.

Também entre os países mais afetados da região, o México já registra 4.767 mortes, de acordo com os números divulgados na sexta-feira, ou seja, supera a China, onde a COVID-19 surgiu em dezembro passado.

– Necrotérios em colapso –

Todos os dias, surgem imagens dramáticas da pandemia no mundo inteiro. Em Mumbai, na Índia, os necrotérios estão cheios, há corpos nas enfermarias dos hospitais, alguns pacientes precisam dividir o leito, e os profissionais de saúde estão exaustos.

Com cerca de 18 milhões de habitantes, Mumbai tem quase 17.000 casos confirmados de COVID-19, mais do que o dobro da capital, Nova Délhi.

“O sistema está sob enorme pressão, explode”, relata o médico de UTI Deepak Baid.

O desejo de milhões de trabalhadores indianos de voltarem para casa provocou vários acidentes de estrada neste sábado. Segundo dados oficiais, houve pelo menos 30 mortos nestes incidentes.

O Quênia anunciou que fechará suas fronteiras com Tanzânia e Somália por causa da pandemia.

E, nas últimas 24 horas, o Irã anunciou 35 mortos, seu melhor balanço desde o início da crise de saúde.

Nos Estados Unidos, o país mais afetado do mundo, com 87.493 mortes, o desemprego já afeta 15% da população, um número recorde.

Em Washington, a Câmara dos Representantes votou um histórico plano de ajuda de US$ 3 trilhões na sexta-feira. O texto apresentado pelos democratas foi rejeitado pelo presidente Donald Trump e pelos republicanos, que são a maioria no Senado.

O impacto econômico da pandemia é inimaginável por enquanto. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), as transações internacionais registrarão “perdas de dois dígitos” em quase todas as regiões do mundo. O efeito é especialmente terrível no setor aéreo.

Na sexta-feira, a chileno-brasileira LATAM Airlines anunciou que demitirá 1.400 funcionários de suas subsidiárias no Chile, na Colômbia, no Equador e no Peru como resultado da redução drástica de suas operações pela pandemia.

A Air Canada também informou que terá de cortar pela metade seu quadro de 38.000 funcionários.

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