Na América do Sul, celeiro de grandes craques do futebol mundial, desfrutar do futebol de seleções no estádio é um privilégio. Os altos custos dos ingressos para os jogos das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026 distanciam os torcedores de menor renda de seus ídolos.

Na primeira rodada do torneio, disputada em setembro, foram inúmeras as reclamações pelos preços nas alturas em países que vivem o futebol como uma religião.

Do treinador de Messi, Lionel Scaloni, ao ídolo chileno Arturo Vidal e dos torcedores que sobrevivem com baixos salários em economias instáveis com a inflação em alta como a Colômbia, que vende em Barranquilla as segundas entradas mais caras da região, segundo cálculos da AFP.

A média do preço dos ingressos é de aproximadamente 102 dólares (quase R$ 527,00), em um nação com um salário mínimo de US$ 270 (cerca de R$ 1.394,00). Pablo González, um trabalhador de uma universidade dessa cidade caribenha encarregado de serviços de manutenção e limpeza, já aceitou que não poderá ver sua seleção jogar na quinta-feira contra o Uruguai por falta de dinheiro.

“No meu caso pessoal (pagar), é algo impossível (…) Tem pessoas que têm um poder aquisitivo muito alto, mas não se pode desfrutar disso”, reclamou em conversa com a AFP o torcedor de 49 anos.

– “Excludentes” –

O giro que a Argentina faz pelo continente pensando na próxima Copa do Mundo desperta paixões e frustrações entre os torcedores em um país com 120% de inflação anual e um índice de pobreza que passa de 40% da população.

Para o próximo encontro contra o Paraguai, a federação disponibilizou entradas com valor médio de 120 dólares no câmbio oficial (quase R$ 620,00). Diante da quantidade de fanáticos que querem ver Messi e companhia, a AFA lançou o “AFA ID”, uma espécie de sócio-torcedor da “Albiceleste” que dá prioridade para a compra de ingressos para quem se associar.

A que dá mais benefícios, chamada categoria “Oro”, custa 14.000 dólares (quase R$ 73.000,00), um valor bem distante dos 323 dólares do salário básico (cerca de R$ 1670,00).

Sem condenar diretamente os preços fixados, o treinador Lionel Scaloni assegurou em setembro que gastou milhares de pesos argentinos em entradas para sua família e sugeriu que os torcedores sofrem para acompanhar a “Scaloneta”.

“Foi caro para mim, como para todos. Mas eu não sou ninguém para decidir o preço dos ingressos”, disse em uma entrevista coletiva. “Se fosse por mim, as pessoas iriam de graça. (mas) o que posso fazer? Não posso fazer nada sobre isso”, disse.

No Brasil, os preços variam segundo a capacidade socioeconômica da cidade-sede das partidas, ao mesmo tempo em que o desinteresse pela “Seleção” cresce entre os brasileiros.

– Arrependimento –

Considerado um jogador do povo por sua origem humilde, o capitão Arturo Vidal se encarregou de chamar a responsabilidade para si no Chile.

“Os ingressos estão caros. Já dissemos ao presidente (da Federação de Futebol do Chile, Pablo Milad) que os diminua um pouco, porque estão muito caros, necessitamos do estádio cheio”, disse antes da partida contra a Colômbia em 12 de setembro, em uma transmissão na Twitch.

Segundo a imprensa chilena, diferentemente das Eliminatórias passadas, os torcedores de “La Roja” demoraram vários para esgotar os ingressos do estádio Monumental de Santiago.

No Uruguai, os dirigentes fizeram uma mea culpa pelos preços, que impediram que o Centenário de Montevidéu lotasse na estreia oficial de Marcelo “El Loco” Bielsa no banco de reservas da “Celeste”, em 8 de setembro com a vitória por 3 a 1 sobre o Chile

“Erramos”, reconheceu o presidente da Associação Uruguaia de Futebol (AUF), Ignacio Alonso, em declarações à Esdrújula TV divulgadas pelo jornal El País. “A prova é que o estádio teria que ter tido uma venda de 40.000 entradas, que era o que estava permitido nesse dia, e tivemos cerca de 31.500”, admitiu.

“Há 8.500 que não foram e corresponde à rejeição aos preços”, disse Alonso, que reduziu ligeiramente os preços para a rodada das Eliminatórias em outubro.

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