A Furia, principal organização brasileira de eSports, fechou um contrato no valor de R$ 15 milhões com a FTX, empresa global do ramo de criptomoedas. Trata-se do maior patrocínio da história dos esportes eletrônicos no Brasil, com valores equivalentes aos recebidos por times da Série A do Campeonato Brasileiro, com a marca sendo exibido no uniforme das equipes em todas as modalidades. A informação foi obtida com exclusividade pelo Estadão.

Com pouco mais de cinco anos de existência, o Furia possui atualmente sete empresas no seu rol de patrocinadores – entre eles Red Bull, Santander e Twitch. O novo acordo representa um valor superior à soma do montante pago por essas empresas. O contrato também representa um aumento de 1800% em relação ao primeiro acordo, ocorrido no primeiro ano de fundação da organização. Tratando-se de eSports, ainda um conteúdo de nicho, os números são considerados surpreendentes. A título de comparação, o São Paulo recebe cerca de R$ 24 milhões para estampar o nome da marca na camisa. Vale ressaltar que o patrocínio da FTX não representa a principal fonte de receita da organização, que vem de premiações e direitos de arena.

Segundo Aline Maryama, diretora de vendas e parcerias da Furia, o boom das criptomoedas no fim de 2021 ocasionou em uma procura das empresas deste segmento para firmar parcerias. Ela revela que o grupo de eSports recebeu diversas propostas e conversou com outros interessados antes de fechar negócio, mas a escolha pela FTX ocorreu principalmente pela convergência nos ideais a serem levados ao público gamer.

“A Furia é mais do que uma organização de esporte, nós somos um movimento sociocultural. A gente deseja impactar a vida das pessoas, seja nossos atletas profissionais, streamers e funcionários, através de esporte, performance, tecnologia e boas tomadas de decisão. Nos preocupamos com o futuro e a vida das pessoas que estão conectadas com a gente”, diz. “Não buscamos apenas um patrocinador, mas também parceiros que querem crescer com a gente, com as nossas ideias ousadas de provocar e buscar mudança.”

Diferentemente do que ocorre em outros esportes, nos quais as marcas são expostas majoritariamente em transmissões na televisão, os patrocinadores de eSports e streamers têm a possibilidade de aparecer durante horas aos gamers, acostumados com lives que podem durar até seis horas seguidas na internet. Por se tratar de uma empresa de criptomoedas, tema ainda pouco destrinchado pelo público em geral, Maryama conta que a Furia teve o cuidado de pesquisar se a parceria seria bem recebida pelos fãs. O diagnóstico foi de que o público ainda tinha um entendimento muito limitado sobre o assunto, e por consequência o receio de experimentar a tecnologia de câmbio criptografado. A ideia foi a criação de um conteúdo educacional, que será veiculado nas redes da Furia.

“Nós temos muito cuidado com o diálogo que a gente faz com nossos fãs. Dentro do nosso próprio corpo de atletas tem pessoas que não entendem nada, e um ou outro que entende bastante. São streamers que atingem nichos e faixas etárias diferentes. Cada uma delas vai ajudar a plantar essa sementinha dentro do seu nível de conhecimento. Quem conhece pouco, vai aprender junto com a sua comunidade (de fãs) e compartilhar esse conhecimento.”

Com sede nas Bahamas, a FTX foi criada em 2019 pelo empresário americano Sam Bankman-Fried, de 30 anos. Segundo a Forbes, a fortuna dele é avaliada em US$ 24,5 bilhões (R$ 113,25 bilhões).

HISTÓRIA DE SUCESSO

Fundada em 2017 por André Akkari, Jaime Pádua e Cris Guedes, a Furia rapidamente se notabilizou pelo desempenho nos campeonatos de eSports, principalmente nos torneios de Counter Strike:Go. A organização tem a torcida ilustre de Neymar, fã declarado do jogo, e que já fez publicações nas redes torcendo para o grupo, que ainda conta com times nas disputas de Valorant, League of Legends, Rainbow 6 e Free Fire.

O time de CS:GO da Furia, um dos seus carros-chefe, atualmente conta com Rafael “saffee”, Yuri “yuurih”, Andrei “arT”, Kaike “KSCERATO”, e é treinada por Nicholas “guerri”. Foi o jogo que alçou a organização ao sucesso, com a classificação do time para a disputa do seu primeiro campeonato mundial em 2019. De lá para cá, o time acumulou troféus na categoria e se consolidou entre os dez melhores do planeta. Atualmente ocupa a oitava posição do ranking mundial, o melhor brasileiro da lista.