Sempre que um presidente da República fala de economia, a confusão logo se instala. Bolsonaro, por exemplo, que era um asno em matéria de política econômica, criou a figura do “posto Ipiranga” dada a Paulo Guedes, para não ter que se meter a dar palpites na área. Lula, que também não é nenhum expert no assunto, tem provocado grandes tumultos no mercado financeiro toda vez que se atreve a comentar as metas da inflação e as taxas de juros. O petista tem insistido em dizer que a meta inflacionária, hoje em 3,23% ao ano, está muito baixa e que ela poderia ser um pouco mais alta, de forma que a taxa de juros – atualmente em 13,75% –, pudesse ser um pouco mais baixa. O presidente acha que com essa taxa elevada há desestimulo a investimentos.

Ao fazer tais afirmações, o mercado financeiro estremece. Afinal, foi assim que o governo Dilma levou o País para uma grande crise econômica. Pior, é que agora o Banco Central é independente e tem força para manter as taxas de juros mais altas, sempre que perceber que há riscos para a inflação disparar. E hoje, a taxa inflacionária está em 7,87% para os últimos 12 meses. Ou seja, quase o dobro da meta. Se o BC relaxar a taxa Selic, a inflação pode sair do controle. Ocorre que Lula, que considera a independência do BC uma “bobagem”, está insatisfeito com a postura de Roberto Campos Neto, presidente do BC, com mandato até 2024. Para o petista, o banco está intransigente na determinação de manter a Selic em 13,75%, quando ela já deveria ter caído no final de janeiro.

Lula chega ao exagero de acreditar que Campos Neto, considerado por ele como bolsonarista, está mantendo os juros nas alturas por desejar levar o País para uma crise. Chega ao extremo de entender que o presidente do BC “está traindo” o atual governo, desejando empurrar o País para uma recessão. O petista está equivocado. Os grandes economistas, como Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC, dizem que aumentar a meta da inflação será o mesmo que apagar fogo com gasolina.

O que o governo teria que fazer é estabelecer, de uma vez por todas, uma alternativa para o teto de gastos e definir o arcabouço fiscal para sustentar as contas públicas. O que vemos até agora é o governo aumentando os gastos públicos e não implantando nenhum programa de austeridade que leve à contenção das despesas. Mas o fato é que o presidente deveria calar-se um pouco nas manifestações públicas sobre inflação e juros, deixando a equipe econômica de Fernando Haddad trabalhar para encontrar soluções que destrinchem o nó inflacionário, que dá sinais que não vai ceder. E olha que para o ano que vem a meta será ainda menor, de 3%, conforme previsão dos técnicos do BC. E como Lula não pode trocar o comando do banco, o negócio é o presidente trabalhar mais e falar menos.