A procura por fundos de ações representou em 2018 uma das principais novidades na carteira dos investidores mais ricos, com patrimônio acima de R$ 1 milhão. Segundo dados divulgados pela associação das empresas do setor, a Anbima, no ano passado, esse tipo de produto representou 6,1% da carteira de investimento dos brasileiros de mais alta renda – avanço de quase quatro pontos porcentuais em relação a 2016 e de quase de dois pontos comparado a 2017.

O resultado do levantamento animou os gestores do ramo. Para eles, o ponto mais positivo é o crescimento sustentável do segmento por dois anos seguidos, o que pode representar uma tendência num mercado com alto potencial. No Brasil, a procura por produtos de renda variável – que inclui ações, câmbio e derivativos – ainda é considerado modesto comparando-se aos padrões internacionais.

Por isso, especialistas preveem amplo espaço para o avanço desses fundos em 2019, entre os mais ricos e também na faixa de médio padrão, conhecido como segmento de varejo. Esse movimento, no entanto, estaria condicionado à aprovação da reforma da Previdência, tida como fundamental pelo mercado financeiro para uma expansão do PIB acima de 2% e uma taxa de juros Selic estável ou até mesmo abaixo do atual patamar de 6,5%, que é mantida pelo Banco Central desde o dia 21 de março do ano passado.

Nesse cenário, estrategistas de instituições como Itaú, XP e Ativa já trabalham com recomendações de até 10% do capital dos clientes em produtos de renda variável. Esse porcentual, no entanto, pode subir para entre 15% e 20% das alocações ainda neste ano.

Segundo os gestores, essa expansão na renda variável terá impacto direto na procura por fundos de ações – produtos que demandam investimento mínimo menor e oferece uma gestão mais dinâmica e prática do que a compra de ações na Bolsa.

“Se tudo der certo na economia, os fundos de ações, que já estão crescendo entre os mais ricos, devem continuar nesse ritmo de expansão neste ano”, diz o sócio e líder de estratégia e alocação da XP Private, Luciano Telo. “Esse aumento na procura deve chegar no mercado de varejo em breve. Os investidores mais ricos têm mais recursos e um nível de educação financeira maior para adiantar essas tendências”, afirma o superintendente do Itaú Asset, Nicholas McCarthy.

Não é tudo ação

Os fundos de ações são produtos que, como diz o nome, reúnem em uma mesma cesta uma certa quantidade de papéis de empresas. Pela lei, eles precisam ter no mínimo 67% dos recursos alocados em ações. O restante pode ser aplicado até em renda fixa, uma estratégia usada para diminuir os prejuízos que possam ser causados pela volatilidade da Bolsa.

Existem dois tipo de fundo de ação: passivo e ativo. O passivo replica um indicador, por exemplo, o índice com as principais ações da B3, o Ibovespa. O ativo é constantemente modificado pelo gestor, que procura proteção e rentabilidade com base no cenário econômico.

É possível investir a partir de R$ 100 em fundos de ações, embora o recomendado sejam aportes acima de R$ 1 mil. O prazo para resgate é geralmente de 30 a 40 dias e a taxa de administração dos fundos ativos pode ser de 3%, em média – alguns fundos cobram um porcentual do que conseguem superar do Ibovespa.

Alta

De janeiro de 2018 a janeiro de 2019, os fundos ativos acumulam uma valorização média de 17,76%, contra 14,91% dos passivos e 5,64% dos fundos de renda fixa. “Hoje, alguns clientes em nossa base já aceitam até 50% de seu portfólio em ações”, diz a gerente comercial e sócia da Ativa Investimentos, Rebeca Nevares. “Isso é uma novidade”, afirma.

É o caso do executivo Alexandre Casarini, diretor de vendas em uma empresa de tecnologia. Depois de um início concentrado em ações, na década de 1990, ele passou os últimos anos se protegendo com renda fixa e, somente agora, voltou para a renda variável. “Eu já perdi bastante. Agora, aprendi e estou abrindo minha carteira”, diz ele que tem cerca de 7% em papéis de empresas. “Minha meta é chegar a 10% e, conforme for, até 15% neste ano.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.