A busca por uma renda fixa mais atraente tem feito os gestores garimparem oportunidades de negócios fora do Brasil. E um dos alvos é a Argentina. Mergulhado em uma recessão, o país vizinho paga prêmios, em dólar, de até 19% ao ano para o investidor que esteja disposto a “apimentar” o seu portfólio com ativos não usais por aqui, como os títulos de dívida pública da província de Mendoza ou os eurobonds da Techint, empresa de engenharia ítalo-argentina.

Essas opções estão disponíveis para o investidor pessoa física, que as encontra em fundos ainda pequenos, distribuídos por corretoras de pequeno porte, como a TAG Investimentos. Para o economista Roberto Luis Troster, especialista em finanças, a oportunidade é boa e as novidades argentinas no mercado brasileiro podem valer a pena. Mas, assim como os próprios gestores, ele recomenda cautela com a estratégia, já que juro alto no mercado de capitais é sempre sinalização de maior risco para o patrimônio do aplicador. “No entanto, a relação custo-benefício é alta. O país paga prêmios interessantes quando comparado ao Brasil de hoje. E o cenário econômico não deve piorar”, diz.

Recessão

Em crise desde o ano passado, com inflação de 56% e desemprego crescente, a Argentina que agrada alguns gestores tem empresas com bons ratings e províncias (o equivalente aos Estados no Brasil) com situação fiscal superior à do governo federal, donas de receitas dolarizadas devido à produção e à exportação de gás e petróleo ou ainda se beneficiando de um peso mais fraco, por causa da exportação de vinho.

Tudo isso opera a despeito da recessão que vem de 2018 e do receio do mercado com o resultado da eleição de outubro, que vai definir o novo presidente. Por lá, o cenário político está polarizado entre uma direita que está no poder e uma esquerda envolvida em investigações de corrupção.

Desgastado por protestos contra o atual plano de austeridade fiscal, o presidente e candidato à reeleição Mauricio Macri deve enfrentar uma disputa equilibrada com a ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2014), que se lançou como vice na chapa do peronista Alberto Fernández.

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Mas, seja qual for o resultado das eleições, para o fundo de multimercado Exploritas Alpha América Latina, o país deve permanecer como sendo o principal tempero para um produto que, desde sua fundação, em 2014, vem rendendo 254% do CDI e, neste ano, já acumula 335% dessa taxa de juros que caminha ao lado da Selic, hoje em 6,50%.

“Nós gostamos muito da Argentina, principalmente das dívidas públicas da província de Buenos Aires, que é praticamente um terço em tudo por lá: um terço em população, um terço do PIB”, conta o gestor Daniel Delabio, da Exploritas. O fundo é acessível a partir de R$ 10 mil e tem liquidez de 30 dias. “Quando pensamos nas províncias, a maioria delas têm uma condição fiscal favorável, hoje com superávit, e um nível de endividamento gerenciável.

Diversas províncias também não deram calote na crise de 2001 e 2002″, analisa Delabio. Nesse período, o governo federal declarou moratória, deixando de pagar os investidores.

No caso do TB Galloway Emerging Markets, outro fundo de investimento com ativos argentinos, o tempero fica por conta das dívidas corporativas, sobretudo de empresas do setor de energia. Hoje, a participação do país vizinho no produto, que demanda investimento mínimo de R$ 25 mil, é pequena, de 1,7% do portfólio. Os gestores esperam o que vai acontecer nas eleições.

“Nosso receio é uma vitória de Cristina Kirchner e seu histórico de intervenção no mercado”, diz Nathan Shor, diretor da suíça Mirabaud, que adquiriu o fundo em julho do ano passado e, desde o início, vem rendendo 122,47% do CDI. “Nosso fundo tem potencial para atrair R$ 1 bilhão em dois anos. Por enquanto, temos R$ 40 milhões. Queremos alcançar o número mágico de R$ 50 milhões para conseguir incluí-lo no portfólio das corretores maiores”, diz Ulisses de Oliveira, que também é diretor do Mirabaud. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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