O Fundo Global de combate à aids, tuberculose e malária tentará, na quinta-feira (10), arrecadar US$ 14 bilhões em Lyon para financiar suas ações, um “desafio” necessário para superar essas epidemias até 2030.

Na opinião de todos, alcançar essa meta será difícil, diante do “cansaço dos doadores”: a causa da aids pode parecer menos urgente do que há alguns anos e muitos fundos foram mobilizados para a causa ambiental, como a Fundo Verde para o Clima, visto como mais politicamente benéfico.

“No contexto atual, qualquer aumento significativo além dos US$ 12,2 bilhões” levantados três anos atrás na última conferência de financiamento do Fundo global “será considerado um sucesso”, afirmou a Presidência da França, país anfitrião da conferência.

“Precisamos de US$ 14 bilhões em Lyon”, declarou o presidente Emmanuel Macron há duas semanas, na Assembleia Geral da ONU, enfatizando que “ninguém pode entender que, por razões financeiras, (…) seja impossível ter acesso a tratamentos para prevenir, ou curar, essas doenças”.

Esse montante foi estabelecido em janeiro pelo Fundo global como o mínimo para atingir a meta da ONU: acabar, em dez anos, com as epidemias de aids, malária e tuberculose, as três principais doenças infecciosas que representam uma ameaça à saúde mundial.

O montante é considerado insuficiente por muitas ONGs que, apoiando-se em estimativas de especialistas independentes, calculam que seriam necessários de US$ 16,8 bilhões a US$ 18 bilhões para alcançar este objetivo.

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A 6ª conferência de financiamento do Fundo global, para o período 2020-2022, começa quarta-feira à tarde no Centro de Convenções de Lyon. Reunirá 700 participantes, incluindo dez chefes de Estado e de governo, principalmente da África, o bilionário Bill Gates, primeiro colaborador privado da organização por meio de sua fundação, e o cantor Bono, cofundador da associação RED.

– “Erro de cálculo” –

Até agora, 15 países doadores já anunciaram sua contribuição, garantindo cerca de 75% do valor final. Os Estados Unidos manterão sua posição de primeiro doador, com uma contribuição de 9% (US$ 4,68 bilhões), votada pelo Congresso, que ainda precisa ser formalizada.

Segundo maior contribuinte para o período 2016-2019, o Reino Unido anunciou uma quantia de 1,44 bilhão de libras (cerca de US$ 1,7 bilhão), um aumento de quase 20%, enquanto a Alemanha, que ocupa o quarto lugar, aportará 1 bilhão de euros (cerca de US$ 1,1 bilhão), um aumento de 18%.

Alcançar a meta final dependerá, portanto, dos valores do setor privado e da França, um dos fundadores do Fundo e o segundo maior doador, mas que não aumentou sua contribuição desde 2010, a 1,08 bilhão de euros.

Na semana passada, 200 ONGs assinaram uma coluna no jornal “Le Monde”, pedindo à França que aumente sua contribuição em “pelo menos 25%”.

Enquanto o tratamento anual para o HIV custa agora “menos de US$ 100 por ano”, os 40% das pessoas soropositivas que não têm acesso “estão impulsionando a epidemia”, argumenta Enzo Poultreniez, da Aides.

“Um menor financiamento internacional provocaria o ressurgimento de epidemias, e a resposta ao controle seria ainda mais cara”, disse a codescobridora do HIV e presidente da Sidaction, Françoise Barré-Sinoussi.

Criado em 2002, o Fundo Global é uma parceria entre Estados, sociedade civil, setor privado e doentes. Metade de seu financiamento é destinado para a luta contra a aids, e metade, contra a malária e a tuberculose.

Em seu último relatório, de setembro, a organização reivindicou 32 milhões de vidas salvas desde seu início, mas alertou para “novas ameaças” que comprometem a consecução de seus objetivos: “a estagnação do financiamento”, mas também o desenvolvimento de “resistência às drogas” contra malária e tuberculose.


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