Fundação de Georges Soros deixa Hungria e culpa premiê Orban

Fundação de Georges Soros deixa Hungria e culpa premiê Orban

A pressão do governo do primeiro-ministro Viktor Orban acabou com décadas de presença na Hungria da fundação do bilionário americano George Soros, que decidiu transferir suas atividades de Budapeste para Berlim e denunciou a política “repressiva” das autoridades húngaras.

A Fundação Open Society (OSF, na sigla em inglês), que financia várias ONGs na Hungria e no mundo, anunciou nesta terça-feira sua saída, com palavras duras reservadas para o governo húngaro.

“Confrontada com um entorno político e jurídico cada vez mais repressivo na Hungria, a Fundação Open Society transfere suas operações internacionais e seus funcionários de Budapeste para a capital da Alemanha, Berlim”, afirma um comunicado.

“Ficou praticamente impossível garantir a segurança de nossas operações e de nossos funcionários na Hungria contra a interferência arbitrária do governo”, escreveu o presidente da fundação OSF, Patrick Gaspard.

Embora a OSF tenha sucursais em vários países, incluindo um escritório importante em Nova York, a transferência das atividades e de mais de 100 funcionários de Budapeste para Berlim tem um grande significado simbólico.

O bilionário americano George Soros, de 87 anos, nasceu na Hungria, de onde partiu para o exílio em 1946 depois de fugir do nazismo. Ele iniciou seu trabalho filantrópico no país em 1984, ainda sob o regime comunista.

Os ex-países do bloco soviético se tornaram, após a transição, o principal cenário das atividades da OSF, que investiu na região bilhões de dólares para reformar a economia, a saúde, a justiça e a educação, assim como para promover o direito das minorias e a luta contra a corrupção.

Há mais de um ano, e de maneira crescente com a aproximação das eleições legislativas celebradas em 8 de abril, Viktor Orban, ex-dissidente comunista e que há vários anos recebeu uma Bolsa da fundação de Soros, escolheu o investidor como o principal inimigo do país.

“Não vamos derramar lágrimas de crocodilo após o anúncio da saída da OSF”, afirmou o governo húngaro à AFP.

– ‘Campanha de ódio’ –

O primeiro-ministro húngaro, que foi reeleito com grande vantagem para um terceiro mandato consecutivo, baseou sua campanha no repúdio à imigração, em um país que recebe poucos demandantes de asilo.

Oban acusa Soros de desejar inundar a Hungria e a Europa com imigrantes, por meio da organizações que financia.

O governo húngaro “investiu mais de 100 milhões de euros de recursos públicos em uma campanha de ódio destinada a difundir mentiras sobre a fundação e seus sócios”, criticou a OSF nesta terça-feira.

Em 2017, as autoridades espalharam cartazes por todo país com o rosto de Soros e alertas à população. Também enviaram “questionários” contra o empresário para todas as casas.

Os críticos de Orban rejeitaram o caráter antissemita da campanha, na qual o primeiro-ministro apresentava o empresário americano, de origem judaica, como uma figura da “elite mundial” e dos especuladores “sem pátria”.

O governo não dá trégua na ofensiva contra o bilionário e, nas próximas semanas, o Parlamento húngaro deve examinar um novo pacote legislativo conhecido como “Stop Soros”, que prevê a cobrança de impostos das ONGs “que apoiam a imigração” e a vigilância de seus funcionários pelo serviço de Inteligência.

Em 2017, os parlamentares aprovaram várias leis para reforçar o controle governamental sobre as ONGs que recebem recursos estrangeiros, com as organizações de Soros no alvo. O cenário ameaça a presença no país da Universidade da Europa Central, também criada por Soros.

Todos os obstáculos influenciaram a decisão da OSF de abandonar o país. A fundação afirmou, porém, que prosseguirá com o apoio ao trabalho da sociedade civil civil na Hungria.

Gaspard criticou o governo húngaro “por denegrir, apresentar uma falsa imagem do trabalho (da OSF) e reprimir a sociedade civil para obter um benefício político, utilizando uma tática sem precedentes na história da União Europeia”.

As medidas de Orban provocaram críticas severas dentro da União Europeia.