Uma fundação dedicada à busca de crianças adotadas de forma irregular e levadas ao exterior durante a ditadura de Augusto Pinochet lançou, nesta sexta-feira (1º), uma nova campanha de busca usando inteligência artificial (IA).

O programa, da Fundação Filhos e Mães do Silêncio (HMS) e da filial chilena da agência de publicidade sul-coreana Cheil, compilou fotografias de quatro famílias que denunciam que seus filhos foram roubados durante a ditadura (1973-1990) e levados ao exterior para adoção.

Desde 2018, a justiça chilena investiga o sequestro de milhares de crianças chilenas, especialmente nos 17 anos em que o regime de Pinochet se estendeu.

Embora o sequestro de crianças não tenha sido descartado como método repressivo, como ocorreu na Argentina, acredita-se que as condições da época facilitaram a ação de grupos dedicados a capturar crianças para enviá-las ao exterior com fins econômicos.

O ministro da Justiça, Luis Cordero, informou que o Estado anunciará ações nos próximos dias para fornecer ajuda estatal na busca por essas crianças.

“O Estado do Chile assumirá ações de caráter multissetorial e de coordenação com a sociedade civil em prol do direito de cada pessoa de conhecer sua origem”, disse Cordero no evento.

“Eu adoraria dizer meu nome, mas não sei”, diz um homem de 49 anos em um vídeo criado graças à IA a partir de fotografias de famílias que denunciam o roubo de seus bebês.

Sara Díaz, de 62 anos, é uma delas. Em 1974, disseram-lhe que seu bebê tinha morrido e negaram-lhe a entrega dos supostos restos no hospital onde deu à luz.

Graças às fotografias dela e do marido, falecido há cinco anos, identificaram os traços faciais para estabelecer um possível rosto de seu filho ou filha, que será divulgado nas redes sociais juntamente com uma mensagem em vários idiomas, na esperança de que alguém se reconheça nele e haja um reencontro.

“Sinto que é uma grande esperança, não só para mim, mas para todas as pessoas que estão procurando nossos filhos”, disse Díaz à AFP após a cerimônia de lançamento da campanha.

Não há números oficiais de quantas crianças foram enviadas para o exterior, mas estima-se que pelo menos 2.021 foram adotadas na Suécia entre 1971 e 1992. Outras milhares chegaram à Alemanha, França, Itália, Espanha, Holanda, Suíça, Estados Unidos, Uruguai e Peru.

“Muitas mães aqui foram informadas de que seus filhos tinham falecido e não os conheceram. Agora há a possibilidade de ter uma foto ou um vídeo”, explica Marisol Rodríguez, presidente da fundação HMS.

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