Sem receber salários há três meses e sem o 13º salário de 2016, funcionários do Teatro Municipal do Rio decidiram nesta quinta-feira, 22, manter o esquema de revezamento em vigor desde maio.

Sem dinheiro sequer para ir todo dia à sede do Teatro, no centro do Rio, onde fariam os ensaios, os funcionários decidiram manter apenas a programação de 14 de julho, quando a casa de espetáculos completa 108 anos e vai apresentar Carmina Burana. Os 20 bailarinos que vão se exibir nesse espetáculo comemorativo serão os únicos a ensaiar diariamente, auxiliados por uma “vaquinha” dos colegas. O Teatro é mantido pelo governo estadual, em calamidade financeira desde o ano passado e sem pagar salários da maioria dos servidores.

Segundo os funcionários, a ópera Um Baile de Máscaras, de Giuseppe Verdi, que iria estrear em 13 de julho, foi cancelada porque não há condições de fazer os 22 ensaios necessários. O diretor artístico André Heller-Lopes nega que houvesse data de estreia. “Esse espetáculo foi programado pela direção anterior (do teatro) e não tinha data definida. Temos tomado muito cuidado para não divulgar algo que não podemos cumprir.”

Além do espetáculo de estreia, existe a possibilidade de estender Carmina Burana ao longo de julho. Mas os funcionários decidiram que só farão isso se receberem ao menos o salário de abril, além de algum auxílio financeiro – não necessariamente o salário de maio. A proposta foi apresentada ontem à direção do Teatro, mas o presidente da casa, André Lazaroni, também secretário estadual de Cultura, estava em Brasília e só seria informado depois sobre a proposta.

Segundo o diretor artístico, até a próxima semana Lazaroni vai decidir se atende as condições exigidas pelos funcionários para realizar a nova temporada de Carmina Burana. “Se conseguirmos, a ideia é recomeçar em 13 ou 14 de julho”, afirmou o diretor.

Na terça-feira, 20, terminou uma temporada popular de Carmina Burana, levada ao palco pelo coro, orquestra e balé como forma de resistência à penúria. Foram quatro récitas a preços abaixo dos praticados usualmente, todas lotadas. Antes das apresentações – as primeiras com os três corpos artísticos juntos este ano -, o locutor do Municipal leu um texto que narrava a situação de desespero dos corpos artísticos e demais funcionários. O público, que doou alimentos aos funcionários, reagiu calorosamente, com muitas palmas e gritos de “Fora, Pezão” e “Fora, Temer”.

“Não é só transporte, tem alimentação também. Alguns artistas trouxeram quentinhas, para gastar menos”, relatou Pedro Olivero, representante dos funcionários.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.