A Associação de Funcionários do Banco Mundial pediu novas investigações sobre Abraham Weintraub, um dos diretores-executivos da instituição, agora por espalhar desinformação durante a pandemia e fazer campanha polícia para um cargo eletivo no Brasil.

As informações são da Folha, que teve acesso a uma carta enviada pela associação ao Comitê de Ética do banco, na qual funcionários dizem que o comportamento do ex-ministro da Educação de Jair Bolsonaro (sem partido) é “inaceitável”. Segundo o jornal, o documento ainda diz que é preciso verificar se a postura de Weintraub é compatível com o código de conduta e os valores fundamentais da instituição.

Ainda de acordo com a Folha, o documento traz exemplos de ataques de Weintraub contra a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, a defesa da cloroquina, medicamente comprovadamente ineficaz contra a Covid-19, e uma possível campanha eleitoral para o governo de São Paulo.

Weintraub está no cargo no Banco Mundial desde 30 de julho de 2020, e antes mesmo de assumir o posto a associação já havia pedido ao Comitê de Ética em junho a suspensão de sua nomeação até que fosse apurada sua atitude em episódios como discursos preconceituosos em relação à China e a minorias, e sua fala defendendo a prisão de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), mas, à época, a reivindicação foi negada.

Agora, ainda de acordo com a Folha, o ex-ministro de Bolsonaro tem se dividido entre as reuniões no banco e a divulgação de vídeos em suas redes sociais sobre diversos temas, que foram o estopim para a nova carta da associação.

Entre eles, está um vídeo publicado no YouTube em 16 de janeiro, no qual Weintraub “busca oferecer ‘evidências científicas’ para atestar que a hidroxicloroquina é um tratamento eficaz contra a Covid-19; e afirma que as múltiplas mutações do vírus são uma indicação clara de que ele foi fabricado em laboratório”, diz a carta.

Leia a íntegra da carta da Associação de Funcionários ao Comitê de Ética do Banco Mundial.

Em 24 de junho de 2020, a Assembleia de Delegados da Associação de Funcionários do Banco Mundial trouxe à atenção do Comitê de Ética alegações sobre comentários racistas e acusações criminais relacionados ao Sr. Abraham Weintraub, que na época estava sendo nomeado para diretor-executivo. Seus antecessores responderam prontamente que o Código de Ética se aplicava apenas prospectivamente [quando Weintraub se tornasse, de fato, funcionário], implicando que o Comitê de Ética deveria ignorar tais alegações e acusações.

No entanto, a Associação de Funcionários continua a ouvir preocupações dos funcionários sobre o comportamento e as ações do Sr. Weintraub enquanto ele é um membro ativo da diretoria do banco e, portanto, deseja trazer essas preocupações à sua atenção. Existem duas categorias de preocupações:

Desinformação sobre coronavírus:

O Sr. Weintraub tuitou várias vezes contra a vacina contra o coronavírus produzida pelo Instituto Butantan, do Estado de São Paulo (onde o governador de São Paulo é um adversário político do Sr. Weintraub e do Sr. Bolsonaro): exemplos aqui. Neste vídeo no YouTube de 16 de janeiro (trechos transcritos em inglês abaixo), o Sr. Weintraub busca oferecer ‘evidências científicas’ para atestar que a hidroxicloroquina é um tratamento eficaz contra Covid-19; e afirma que as múltiplas mutações do vírus são uma indicação clara de que ele foi fabricado em laboratório.

Ambas as questões foram desacreditadas pela comunidade científica. Dado o papel crítico do Banco Mundial na luta contra a Covid-19 em todo o mundo, achamos inaceitável que um membro do Conselho Administrativo (muito mais do que qualquer outro membro da equipe) publique nas mídias sociais informações patentemente falsas, aparentemente com o objetivo de politizar a pandemia ou contribuindo para teorias da conspiração.

Fazendo campanha para cargos políticos:

O Sr. Weintraub parece estar fazendo campanha para um cargo político no Brasil ao mesmo tempo em que é funcionário do Grupo Banco Mundial. De fato, foi noticiado dia 19 de fevereiro, em rodada de imprensa em nosso próprio site, cuja primeira linha é: ‘Ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub se lançou como candidato ao governo de São Paulo, diretamente de Washington, Estados Unidos, onde atua como diretor do Banco Mundial.’

Este parece ser um claro conflito de interesses. O Código de Conduta do Conselho, seção 2 (b), cita ‘a exigência de que nem as Organizações ou seus dirigentes interfiram nos assuntos políticos dos países membros’; e a seção 10 (a) dispõe que ‘os funcionários do conselho não devem se envolver em atividades externas incompatíveis com o desempenho adequado de suas funções. Os funcionários do conselho devem obter a autorização prévia do Comitê de Ética para todas as atividades fora das funções oficiais.’

Com base nisso, a Associação de Funcionários solicita formalmente que o Comitê de Ética da Diretoria investigue o comportamento e as ações do Sr. Weintraub, conforme alegado pela equipe do Grupo do Banco Mundial, para garantir que eles estejam de acordo com o Código de Conduta da Diretoria e com nossos valores fundamentais.

Sinceramente,

Comitê Executivo da Associação de Funcionários do Banco Mundial