A tragédia em Brumadinho, no dia 25 de janeiro, continua cercando a vida de muitas pessoas que perderam parentes e amigos ou que acabaram fugindo da avalanche de lama após o rompimento da barragem de rejeitos da Vale e hoje podem contar histórias. A motorista Ana Paula da Silva Mota, de 30 anos, contou sobre os momentos que viveu no dia da tragédia em entrevista para a BBC Brasil.

“Eu estava de frente para a barragem. Acho que fui uma das primeiras pessoas a ver [a avalanche]. Não dava para acreditar”, afirmou. Ana Paula é motorista dos megacaminhões da Vale e diz que viu a avalanche chegar quando passava em uma das montanhas próximas ao Córrego do Feijão. “A onda veio muito rápida, mas também parecia que estava em câmera lenta. É algo muito estranho, não consigo explicar”, completou.

A funcionária da Vale estava no trecho final de uma estrada de terra que descia desde a área de extração de minério até o terminal de carregamento do trem. Ela dirigia um caminhão gigante, com cinco metros de altura e 11 metro de comprimento, além de 91 toneladas de minério que seriam despejados nos vagões do trem.

“Quando caiu a ficha, peguei o rádio transmissor e comecei a gritar desesperada: ‘corre, foge, a barragem estourou’. Quem estava naquela faixa de rádio me escutou gritando. Depois, fiquei sabendo que teve gente que escapou porque ouviu uma mulher chorar e gritar no rádio”, diz Ana Paula. Ela afirma que fugiu de ré em uma missão complicada devido ao tamanho e o peso do veículo que manobrava.

“Era uma subida e o caminhão estava cheio de minério. Eu achava que não ia subir de ré, mas era minha única opção. Fui dando ré e pedindo a Deus para me salvar. Eu dava ré e a lama ia chegando mais perto. Foi Deus que colocou a mão atrás do caminhão e puxou”, conta.