Passou a circular com maior frequência em rodas de políticos e conversas do poder a ideia de asilo diplomático do hepta réu Lula da Silva. Uma alternativa, digamos, tanto crível de ocorrer como amplamente apoiada por cabeças coroadas da base petista. O próprio Lula nega. Tratou de dissuadir de imediato as especulações a respeito alegando questão de princípios. “A palavra fugir não existe na minha vida”, disse. Seria decerto uma surpresa qualquer pretenso foragido assumir antecipadamente que planeja o intento. Afinal, o êxito de uma operação dessa natureza depende diretamente do sigilo. Lula buscar abrigo em algumas das embaixadas ou mesmo nos países que lhe são ideologicamente simpáticos e que já manifestaram claro apoio a sua causa não é, de fato, algo a ser descartado. Ao contrário. A intenção já foi por vezes ventilada e abertamente manifestada por aliados. Intramuros do Partido há quem diga que essa passou a ser a única opção que resta. Lula viu apertar o cerco da Justiça em torno dele. Sabe que novas condenações, ainda mais robustas, estão a caminho. Não encontrou, como imaginava, uma resposta ruidosa das ruas a seu favor. Está aos poucos caindo em si. Revoltado e ao mesmo tempo irascível, disparando palavrões a torto e a direito, tem dado sinais de que não aceita o sombrio destino que os tribunais lhe reservam. Segundo interlocutores, a experiência passada na cadeia décadas atrás deixaram nele marcas profundas e um temor de passar novamente pela mesma experiência. Tudo isso junto, somada a perspectiva de encontrar lá fora eco maior a sua pretensa causa de se apresentar como perseguido e vítima de golpe, traz muito atrativo para a saída de um exílio voluntário. Informalmente, várias autoridades de nações vizinhas têm mandado sinais ao ex-presidente de que o receberão de braços abertos, se assim for seu desejo. O leque de opções nesse sentido é grande: além das previsíveis Venezuela, Cuba e Bolívia, surgiu no horizonte a chance de Lula vir a fixar residência, temporária ou não, no continente africano, em localidades como Argélia e Etiópia. Nesse último caso, o líder petista tinha até viagem pré-marcada, recentemente, para lá aonde daria uma palestra sobre o momentoso tema da “corrupção”. Como especialista na matéria, a fala do ex-presidente era aguardada com grande expectativa. A Justiça resolveu cassar o seu passaporte e ele teve de cancelar o compromisso. Gravou um vídeo falando novamente em perseguição e angariou a simpatia do mandatário local. A tal ponto que dias depois chegou a alguns de seus assessores a informação de que a Etiópia não hesitaria em lhe dar guarida. Pelo sim ou pela não, o surpreendente é a polícia e a Justiça brasileira ainda não terem tomado precauções para evitar essa potencial fuga. Não há qualquer esquema preventivo, salvo alguma orientação que tenha sido tratada reservadamente. De maneira oficial, Lula mantém por enquanto seu direito de ir e vir. Recebeu de volta o passaporte apreendido e sem um mandado oficial de juízes para conduzi-lo ao cumprimento de pena, conta com o beneplácito da dúvida pró-réu. É torcer para que ele não receba alerta prévio e privilegiado de deliberação de sua sentença – como já ocorreu anteriormente quando ficou sabendo um dia antes que seria conduzido de forma coercitiva à delegacia. No País dos poderosos, as chances dadas aos integrantes da patota para escaparem de condenações são grandes. Lamentavelmente. Autoridades fazem de conta que acreditam piamente na postura de vestal injustiçada encarnada por Lula quando ele diz que jamais fugirá. Enquanto isso, ninguém com um mínimo de discernimento aposta um vintém furado nas aleivosias costumeiramente lançadas por esse chefão da quadrilha. Suprema ironia.