EDUCAÇÃO Mayra Feitosa: em busca de universidades com bom custo-benefício (Crédito:Divulgação)

Moradores de Ponta Grossa, cidade com 350 mil habitantes no interior do Paraná, Felipe José Lopes, de 31 anos, e Luiz Diego de Oliveira, 34, não queriam entrar para as estatísticas das vítimas do preconceito. Recém-casados, viviam um cotidiano de ansiedade e receio de perseguições. “Estávamos sempre em alerta e com medo de sermos agredidos”, diz Felipe. Começaram, então, a procurar outros países para morar. Desejavam qualidade de vida, segurança e apoio à comunidade LGBTQIA+. Encontraram o lugar perfeito: o Canadá.

“Há um processo de imigração consolidado e eles precisam da mão de obra dos imigrantes. A população é mais idosa, por isso a chegada de jovens é valorizada”, afirma Luiz. Felipe se mudou para o país com um visto de estudante, pois era mais fácil e rápido de obter. Luiz, por ser seu cônjuge, adquiriu mais tarde um visto semelhante. A empresa onde ele trabalhava auxiliou o casal a obter a residência permanente no país e, antes mesmo de o visto de estudante expirar, ambos já haviam recebido a autorização para morar definitivamente no Canadá. “No começo achamos estranho experimentar uma sensação tão grande de segurança. Aqui foi a primeira vez em que pudemos andar de mãos dadas na rua, sem críticas e olhares atravessados”, diz Felipe.

É cada vez maior o número de brasileiros que decidem sair do País para viver em outro lugar. A decisão é geralmente baseada em três pilares: segurança, qualidade de vida e educação. Só em 2021, segundo dados do governo canadense, cerca de 11.500 brasileiros receberam a residência permanente, um crescimento de 116% se comparado com o mesmo número de 2019 (5.290), último ano antes da pandemia. Em 2020, o índice teve uma queda por conta da Covid-19, mas mesmo assim foi alto: 3.695 pessoas.

Uma delas foi a jornalista Mayra Feitosa, de 34 anos. Ela e o marido se mudaram para o Canadá em busca de um trabalho e uma educação melhor e com bom custo-benefício – as mensalidades das boas universidades da província do Atlântico, para onde se mudaram, chegam a ser a metade do valor cobrado por faculdades nas cidades de Toronto e Quebec. Mayra não demorou para encontrar um emprego em uma empresa de call center. Logo nos primeiros dias, foi avisada de que em três meses poderia aplicar para a residência permanente no país – ela não pensou duas vezes. “Eu vim pro Canadá em busca de segurança e qualidade de vida e senti esse choque cultural quando cheguei aqui e quando voltei ao Brasil em 2021. Eu vim de São Paulo, uma cidade grande, onde sempre pegava transporte público lotado, e mudei pra uma cidade pequena no Canadá. Na cidade onde moro, os ônibus não saem do ponto até você sentar. Não é preciso esconder o celular na bolsa, as portas dos carros e casas geralmente ficam abertas, pois há essa sensação maior de segurança, já que a criminalidade aqui é bem menor”, afirma Mayra, que pretende voltar ao Brasil apenas a passeio, para visitar a família.

Para a pedagoga Clayse Randow, 35, e o analista de sistemas Tiago Pontes, 37, a história foi um pouco diferente. A mudança para o Canadá vinha sendo planejada desde 2016, quando visitaram o país pela primeira vez e se espantaram com o respeito da população. Decidiram, então, que ela daria à luz lá. “Uma criança canadense tem mais chances e oportunidades que alguém que nasce no Brasil”, acredita Tiago. A ideia deu início à ação: ele se matriculou em uma universidade e Clayse arrumou emprego em uma empresa que ajuda imigrantes a obter a cidadania. “Planejamento e estudo são essenciais. Quem vem para cá procura melhor qualidade de vida, e os canadenses precisam de mão de obra. Mas não adianta mergulhar de cabeça sem saber o que quer”, diz Clayse. A pequena Chloe nasceu há 11 meses. “Nosso objetivo é formar uma familia e ter uma boa estrutura para viver tranquilamente. Isso nós estamos conseguindo”, afirma o casal, que não pensa em voltar a morar no Brasil.

PLANEJAMENTO Clayse e Tiago: qualidade de vida para criar a pequena Chloe (Crédito:Divulgação)