Eileen Gu para os americanos, Gu Ailing para os chineses. Nascida em São Francisco, na Califórnia, a esquiadora e influencer com mais de 1,2 milhão de seguidores no Instagram também é modelo da Tiffany, Louis Vuitton e Victoria’s Secret. Jovem e bonita, certamente candidata a “queridinha da América”, ela optou por defender o país da mãe, Gu Yan, nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, deixando seus conterrâneos irritados. Não se abalou com o terremoto geopolítico provocado, ao somar ouros para a China – justamente a superpoderosa concorrente comercial dos EUA, além de rival direta no quadro de medalhas olímpicas, que se traduz em termômetro ideológico das grandes potências desde a Guerra Fria.

ESTILO Gu Ailing soma patrimônio de US$ 1 milhão: antes mesmo de ir à universidade (Crédito:Divulgação)

Defensora dos direitos das mulheres e apoiadora do Black Lives Matter, é criticada nos EUA por não denunciar violação de direitos humanos na China e chamada de traidora por se tornar “garota-propaganda” do regime de Xi Jinping. Na verdade, o sorriso de Ailing Gu está a serviço de empresas, como Bank of China, China Mobile, Luckin Coffee, JD.com (varejista), Anta (roupas esportivas), que focam no mercado de 1,4 bilhão de pessoas. Apenas uma postagem no Instagram, depois da medalha de ouro no big air, ainda antes das provas de slopstyle e halfpipe, provocou mais de 400 mil curtidas e 51 mil comentários no Instagram, enquanto o Sina Weibo chinês dizia que seus servidores ficaram sobrecarregados com mensagens de adoração à campeã.

Meditação e banho demorado

Eileen/Ailing passa longe de debates, insinuações ou críticas. A legislação do país de sua mãe (a família não revela o nome do pai, americano) não permite dupla cidadania e não se sabe se a esquiadora de 18 anos aproveitou uma regra mais recente, que possibilita ao atleta representar o país se comprovar residência. Para ela, quando está nos EUA é “completamente americana” e, na China, “sou chinesa, me identifico como tal”. Com patrimônio calculado em cerca de US$ 1 milhão (mais de R$ 5 milhões), diz que toca piano, toma longos banhos e medita para preencher a mente, “ao invés de ficar ouvindo pessoas, que em 90% das vezes não sabem o que estão falando”.
Para analistas internacionais, a californiana é a prova absoluta de uma tendência: a China se torna cada vez mais poderosa e rica, atraindo imigrantes de todo o mundo pelas oportunidades oferecidas, ao contrário de anos atrás, quando muitos saíam para os EUA, que agora registram aumento de casos de xenofobia. Eileen/Ailing ressalta os benefícios de um mundo mais complexo e interconectado, que para sua geração corre em paralelo a lideranças e ideologias restritas e ultrapassadas.