O Paço do Frevo, em Recife, comemora o Dia do Frevo com festa

O Paço do Frevo, em Recife, comemora o Dia do Frevo com festa Bruna Monteiro/Paço do Frevo/ Todos os Direitos Reservados

No aniversário de 110 anos do frevo, celebrado hoje (9), realidades distintas comemoram a data na capital pernambucana. O Paço do Frevo, espaço cultural da prefeitura do Recife criado há três anos, recebeu o reconhecimento de Centro de Referência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com a presença de autoridades locais e do ministro da Cultura, Roberto Freire. Ao mesmo tempo, mestres de agremiações tradicionais relatam dificuldades financeiras para seguir em atividade.

Funcionando em um prédio histórico localizado no Bairro do Recife, o Paço tem design arrojado para contar a trajetória e simbolismos do frevo de forma interativa e multisensorial. O local abriga ainda atividades semanais como o ensino da dança e da música do frevo – manifestação cultural considerada patrimônio imateral da humanidade desde 2012.

“O Iphan, quando registra um patrimônio imaterial, tem que fazer a salvaguarda. Hoje, o Paço do Frevo é o centro de referência onde se faz a salvaguarda do frevo, cumprindo o que a legislação determina, que é fazer garantir a continuidade dessa manifestação cultural”, disse a presidente do Iphan, Kátia Bogéa. “Pela sua beleza, força, e todos os aspectos dele, a coreografia, a musicalidade, a ligação com outros elementos culturais, o frevo é uma caracterísitica forte do povo brasileiro”, disse durante a cerimônia.

Passistas que frequentam o Paço se apresentaram unindo passos clássicos, como dobradiça, tesoura e parafuso, em uma leitura contemporânea da dança. O funcionário público José Ferreira da Silva Irmão, o Ferreirinha, “passista de frevo de rua”, como se denomina, diz que há espaço para o moderno e o tradicional. “Tanto um como o outro, eu faço e brinco, e invento e reinvento. Estamos carregados pela tradição, o gênio da espécie é a tradição. A partir dela, tem de tudo. E o mundo se transforma – como o frevo, como eu a cada dia e como nós. O importante é a nossa preservação identitária.”  Orquestras de alunos tocaram composições clássicas e também próprias.

Orquestra se apresenta no Paço do Frevo, no Recife

Orquestra se apresenta no Paço do Frevo, no RecifeSumaia Vilella/Agência Brasil

O espaço cultural é gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), organização social sem fins lucrativos, que também é responsável pelo Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Para o diretor-executivo do instituto, Ricardo Piquet, o certificado “é um reconhecimento importante desse trabalho feito ao longo desses três anos, onde tínhamos como proposta essencial levar o frevo durante o ano inteiro”, afirmou. Anualmente, mais de 100 mil pessoas visitam o espaço.

Dinheiro só no carnaval

Enquanto o Paço do Frevo ganha cada vez mais reconhecimento, a realidade de algumas agremiações tradicionais do gênero é difícil, segundo conta Lindivaldo Oliveira Leite, o Vavá do Banhistas, 82 anos. Ele participou da comemoração hoje, mas disse sentir um misto de felicidade e tristeza. Presidente do Banhistas do Pina, agremiação três anos mais velha do que ele próprio, fundada por sua mãe, Vavá disse que falta apoio para a sobrevivência desses grupos.

“Graças a Deus ainda tem a imagem do frevo aqui. Eu agradeço, primeiramente a Deus, por estar aqui até hoje, vendo essa festa toda, e espero que de hoje em diante os dirigentes olhem com carinho para os mestres que trabalham com muito amor e sem dinheiro”, afirmou. Segundo Vavá, o grupo Banhistas se mantém com ajuda financeira da comunidade. O único recurso público recebido é o cachê da festa carnavalesca. “Vamos desfilar no carnaval e a prefeitura pagou o cachê, então não é uma ajuda, é um serviço. O que eles dão não dá nem para a orquestra, R$ 5 mil e depois mais R$ 5 mil”, argumentou.

Outro símbolo do carnaval pernambucano, o Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas, fundado em 1889, também enfrenta dificuldades.  Mais antigo do que o próprio ritmo, está com a sede desativada desde 2014, e agora colocou o imóvel à venda. O hino da agremiação, criado em 1909 por Matias da Rocha e Joana Batista, virou o frevo mais tocado do carnaval.

A prefeitura do Recife informou, em nota, que as agremiações carnavalescas da cidadereceberam um aumento de 20% no valor do apoio financeiro, desde 2014, para a realização dos desfiles. “Este apoio varia de acordo com o tamanho e tipo da agremiação e a que grupo ela faz parte (Grupo Especial, de Acesso, etc). Em 2017, já foi iniciado o pagamento do apoio financeiro às 314 Agremiações Carnavalescas participantes do carnaval”, diz a nota da prefeitura. No total, foram repassados cerca de R$ 1,4 milhão correspondente à primeira parcela. A segunda parcela, segundo a prefeitura, será paga depois do carnaval, mediante a prestação de contas.

Dia do Frevo

O Dia do Frevo, como é conhecida popularmente a data, faz referência à primeira vez que o nome “frevo” foi utilizado para se referir a essa manifestação cultural em um jornal da época, há 110 anos. Outra data, instituída em 2009, também comemora oficialmente o ritmo: o Dia Nacional do Frevo, em 14 de setembro.