O palco principal da Virada Cultural de São Paulo, no Anhangabaú, região central, ficou mais seguro – o policiamento ostensivo inibiu os arrastões e diminuiu a sensação de insegurança. Por outro lado, o público rareou. E a escolha de uma arena única no centro, isolada por tapumes, impediu a circulação em outras áreas – um dos objetivos da Virada quando foi criada. Em linhas gerais, essa foi a percepção – negativa e positiva – de frequentadores do evento.

Espectador desde 2015, o programador de TI Henrique Trindade, de 33 anos, lembra-se de percorrer vários palcos em edições anteriores, saindo da Praça da Sé. Isso se perdeu, em sua visão. “Ficou tudo num lugar só, mais restrito.”

A enfermeira Rafaela Belchior, de 35 anos, compara o novo formato a um festival musical, como o Lollapalooza ou o Rock in Rio. Contribuem para essa sensação, em sua opinião, as grades de contenção, a venda de bebida e comida feita majoritariamente por ambulantes credenciados e a entrada por um acesso totalmente controlado, com revista.

Para Trindade, o lado bom de shows mais seguros foi ter conseguido levar o filho, de 4 anos, para a primeira virada. Para o menino, as grades de contenção significaram liberdade de correr e transformar uma garrafa de água em bola de futebol imaginária. Foi possível ver outras famílias com crianças, principalmente moradoras da região central, curtindo os shows.

Triste memória

Mas a violência vista em edições anteriores ainda cobrava um “preço”, como o fato de apenas o advogado Lucas Brasiliano, de 34 anos, e o recrutador Elivaldo Gomes, de 26 anos, terem ido ao evento de uma turma de seis amigos.

Os outros desistiram ao se lembrar dos “perrengues” com os arrastões, furtos e roubos. Pensando nisso, os vendedores ambulantes do lado de fora da arena ofereciam pochetes para celular por R$ 30, como garantia “antifurto”.

Os frequentadores da noite e madrugada mantiveram os cuidados pessoais de segurança.

Poucos sacavam o aparelho celular do bolso – só arriscavam perto dos postos e viaturas policiais e sempre longe de grandes grupos. A estudante Priscila Alves colocou uma carteira e o celular dentro da blusa, apertados por um top que usa nas aulas de ginástica.

O aposentado José Luis Rodrigues, de 67 anos, já havia ido ao evento anteriormente, mas decidiu sair após meia hora por se sentir inseguro. Desta vez, ficou, mas evitou tirar o celular do bolso. “A situação está melhor, mas a gente teme que algo aconteça”, diz o morador de São Bento do Sul (SC).

Essa memória da violência motivou o rapper MV Bill a ter de explicar a maneira como alguns fãs dançavam a sua música na plateia – a roda de rap pode parecer uma briga em alguns momentos. “Ninguém está brigando. Não se assustem”, pediu ao público duas vezes.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.