Um alto funcionário saarauí pró-independência ameaçou o Marrocos com uma “escalada” militar, neste domingo (24), horas depois de a Frente Polisário bombardear uma área sob controlo marroquino no disputado território do Saara Ocidental.

“A guerra vai continuar e escalar. Todas as posições do Exército marroquino são alvos”, proclamou Sidi Ould Loukal, porta-voz do Ministério da Defesa da República Árabe Saarauí Democrática (RASD), proclamada em 1976 pela Frente Polisário.

Os separatistas saarauís afirmam estar “em estado de guerra de legítima defesa” depois que Rabat enviou tropas ao extremo sul do território a 13 de novembro para expulsar um grupo de militantes que bloqueava a única estrada de acesso à Mauritânia.

As tropas marroquinas mantiveram sua mobilização nesta zona desmilitarizada sob o controle da força de interposição da ONU para “assegurar o tráfego rodoviário” na única rota comercial que leva à África Ocidental.

Apoiada pela Argélia, a Frente Polisário contesta a legalidade deste eixo rodoviário, classificado como uma “brecha ilegal” e contrário, segundo eles, ao acordo de 1991, assinado sob a égide da ONU.

Na noite de sábado (23), a Frente também anunciou ter lançado quatro mísseis contra Guerguerat, situada neste eixo. E assumiu a autoria de ataques cometidos ao longo do muro construído pelo Marrocos nesta ex-colônia espanhola para separar as forças marroquinas de seus combatentes.

Rabat reagiu, considerou o ataque uma “guerra de propaganda”.

– ‘Promessas não cumpridas’

O status do Saara Ocidental, considerado um “território não autônomo” pela ONU na ausência de uma solução definitiva, opõe há décadas o Marrocos e os separatistas saarauís.

A Frente reivindica um referendo de autodeterminação previsto pela ONU, enquanto o Marrocos, que controla mais de dois terços do território, propõe um plano de autonomia sob sua soberania.

As negociações promovidas pelas Nações Unidas, das quais participam o Marrocos e a Polisário, tendo como observadores a Argélia e a Mauritânia, estão suspensas desde março de 2019.

A Polisário diz estar disposta a retomar as negociações, mas se recusa a baixar as armas, após 30 anos de “status quo”.

Nesta disputa, a posição do Marrocos foi reforçada pelo reconhecimento, por parte do agora ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, da soberania marroquina sobre a totalidade deste território.

Este reconhecimento, ligado à normalização diplomática entre Marrocos e Israel, foi acompanhado por um cheque de 3 bilhões de dólares para o “apoio financeiro e técnico a projetos de investimento privados” no Marrocos (incluindo o Saara Ocidental) e na África Subsaariana.