Um gigante com magia nos pés, um dos melhores jogadores da história da Colômbia e um atleta disciplinado e decisivo como poucos: Freddy Rincón protagonizou várias façanhas no futebol internacional.

Rincón morreu na noite desta quarta-feira ao não resistir aos graves ferimentos provocados por um acidente de trânsito na cidade de Cali.

Em 18 anos como profissional, escreveu páginas épicas com a seleção colombiana e com a camisa do Corinthians.

Mesmo com passagens apagadas por Napoli e Real Madrid, o colombiano marcou seu nome no futebol e hoje deixa saudades e lembranças de seu jogo fino e potente.

“Nunca quis ser como outro jogador. Por mais estranho que pareça, sempre quis ser Freddy Rincón. E isso porque tudo estava indo muito bem para mim e cada vez jogava melhor”. Assim ele mesmo resumiu sua singularidade.

Rincón nasceu na cidade de Buenaventura, onde fica o principal porto da Colômbia na costa do Pacífico. Como muitos jogadores da América Latina, conheceu a pobreza desde cedo. Ainda menino, trabalhava com os irmãos carregando madeira.

Antes de alcançar seu porte imponente (1,88m e quase 90kg), recebeu pancadas da vida pelas quais nunca chorou, como se gabou uma vez em entrevista à revista Bocas.

Aos 14 anos, tomou a decisão de ser jogador profissional. Para isso, adotou uma disciplina que rapidamente o diferenciou de seus companheiros: “jogava de sete da manhã às dez da noite, sem parar, todos os dias”.

Para o ex-técnico da seleção da Colômbia Jorge Luis Pinto, que o treinou em seus primeiros anos no Santa Fe, Rincón foi antes de tudo um atleta exemplar.

“Um homem que nunca se queixou de dores para trabalhar, um homem que se dedicou ao futebol”, disse o treinador à rádio colombiana Caracol.

Ele também recorda que chegou a testar Rincón em todas as posições, menos como goleiro.

Antes de marcar época no Corinthians, ele passou por Napoli e Real Madrid, onde pouco jogou e enfrentou o racismo.

“Tinha acabado de chegar a Madri e pintaram o Santiago Bernabéu com frases racistas. Lorenzo Sanz, um dirigente, disse que o primeiro jogador que deveria sair do time era eu, e eu era o único negro lá na época”, disse Rincón sobre sua passagem pela Espanha.

O colombiano também viveu momentos complicados depois da aposentadoria. Em 2006, teve prisão decretada em uma investigação sobre lavagem de dinheiro proveniente do narcotráfico.

Por pedido da justiça panamenha, ficou detido por quatro meses e meio no Brasil. Sempre alegou inocência e foi absolvido anos depois.

Em 2013, sobreviveu a um acidente de trânsito que lhe causou várias fraturas, quando dirigia em uma rodovia no sudoeste da Colômbia. No início desta semana, ele não teve a mesma sorte e, numa violenta batida com um ônibus, sofreu traumatismo craniano severo e não resistiu.

“Tinha talento e força física também. É verdade que sua condição natural lhe dava uma grande vantagem, mas ele tinha inteligência para aproveitá-la”, disse ao canal Win Sports o espanhol Emilio Brutageño, ex-jogador e dirigente do Real Madrid.

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