Francisco nomeou a maioria dos cardeais que votam, mas seu legado não está garantido

Papa Francisco nomeou 80% dos cardeais aptos a votar no conclave, mas isso não garante que o novo pontífice terá alinhamento automático com as suas ações

Fernando Frazão/Agência Brasil
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O papa Francisco nomeou em seu pontificado 108 dos 135 cardeais que poderão votar e ser votados no próximo conclave. Isso não é uma garantia, no entanto, de que o papa a ser eleito para suceder Francisco tenha identificação com as linhas de ação de seu papado. Só poderão votar no conclave os cardeais com menos de 80 anos.

O total de cardeais da Igreja católica atualmente em todo o mundo é 252. Mas 117 deles não têm direito a voto por terem completado 80 anos. O único cardeal no Brasil nessa situação é dom Raymundo Damasceno, 87 anos, arcebispo emérito de Aparecida (SP). Francisco escolheu 108 dos cardeais aptos a votar, outros 22 foram pelo seu antecessor, o papa Bento XVI, e apenas cinco por João Paulo II.

Nesse conjunto, sete cardeais com direito a voto são brasileiros, cinco deles nomeados por Francisco. Apenas dois são considerados progressistas: o cardeal de Porto Alegre (RS), dom Jaime Spengler, atual presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus (AM).

Foram também nomeados cardeais por Francisco dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil (título dado a quem comanda a arquidiocese mais antiga do país); dom Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília; e dom Orani Tempesta (foto), arcebispo do Rio de Janeiro. Dom Sérgio da Rocha é considerado moderado, politicamente ao centro. Dom Orani está mais próximo da centro-direita e dom Paulo Cezar Costa é visto como conservador.

Os outros dois cardeais brasileiros que também terão direito a voto – e poderão ser votados – são dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, também identificado politicamente com a centro-direita e que chegou a ser cotado para tornar-se papa no conclave de em 2013; e dom João Braz de Avis, arcebispo emérito de Brasília e prefeito da Congregação dos Institutos Religiosos do Vaticano até 2023, que é considerado moderado.

Dom João Braz de Aviz se tornou um religioso bastante próximo de Francisco. Dom Odilo é apontado como de centro-direita ou conservador, mas é um arcebispo que dá liberdade de ação para religiosos da ala progressista da Igreja, como o padre Júlio Lancelotti, por exemplo, coordenador da Pastoral do Povo da Rua, em São Paulo.

Os cardeais brasileiros que participam do conclave
Jaime Spengler – arcebispo de Porto Alegre e atual presidente da CNBB, tem 64 anos. Nasceu em Gaspar (SC). É arcebispo de Porto Alegre desde 2013 e foi nomeado por Francisco no ano passado.

Dom Odílio Scherer – arcebispo de São Paulo, 75 anos, nasceu em Cerro Largo (RS). No último conclave, em 2013, foi cotado para ser papa. Foi nomeado bispo-auxiliar de São Paulo em 2002, e em 2007 tornou-se arcebispo de São Paulo, quando também foi eleito secretário-geral da CNBB.

Sérgio da Rocha – arcebispo de Salvador, 65 anos, é o arcebispo-primaz do Brasil. Nascido em Dobrada (SP), foi bispo auxiliar de Fortaleza (CE) e arcebispo de Teresina e Brasília, antes de assumir a arquidiocese de Salvador. Foi nomeado cardeal por Francisco em 2020.

Paulo Cezar Costa – Arcebispo de Brasília, 57 anos, nasceu em Valença (RJ). Foi nomeado bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro em 2010. Em 2020, foi designado para a Arquidiocese de Brasília. Foi nomeado cardeal por Francisco em 2022.

Dom Orani Tempesta (foto) – Arcebispo do Rio de Janeiro, 74 anos, nasceu em São José do Rio Pardo (SP). Foi nomeado arcebispo de Belém (PA) em 2004 e, cinco anos depois, transferiu-se para a Arquidiocese do Rio de Janeiro. Dom Orani recepcionou o papa Francisco em sua visita ao Rio de Janeiro para participar da Jornada Mundial da Juventude, em julho de 2013, quatro meses depois de ele tomar posse no Vaticano. Dom Orani Foi nomeado cardeal por Francisco um ano depois.

Dom Leonardo Steiner – Arcebispo de Manaus, 74 anos, nasceu em Forquilhinha (SC). É o primeiro cardeal da Amazônia. Foi nomeado bispo em 2005 por João Paulo II e eleito secretário-geral da CNBB, em 2011. No mesmo ano, tornou-se bispo auxiliar da Arquidiocese de Brasília. Em 2019, foi nomeado arcebispo de Manaus e, três anos, Francisco lhe deu o título de cardeal.

Dom João Braz de Aviz – Nasceu em Mafra (SC) e tem 77 anos. Arcebispo emérito de Brasília, foi nomeado prefeito da Congregação para os Institutos Religiosos, em 2011. Ficou no cargo até completar 75 anos. Foi também bispo de Ponta Grossa (PR), arcebispo de Maringá (PR). Participou do conclave que elegeu Francisco.

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