Com seus restos exumados nesta quinta-feira (24) de seu monumental mausoléu perto de Madri, o general Francisco Franco liderou uma das mais longas ditaduras da Europa, desde que venceu a Guerra Civil espanhola, em 1939, até a sua morte, em 1975.

Nascido em 4 de dezembro de 1892, em El Ferrol (Galiza, noroeste), de pai oficial, ingressou na Academia de Infantaria de Toledo aos 14 anos.

Subtenente aos 17, “Franquito” – como era conhecido por sua baixa estatura e voz aguda – pede para ser enviado para o Marrocos, onde se destaca na guerra do Rif.

Em 1923, recebe o comando da Legião, uma unidade de elite com reputação de usar a força bruta. Nesse mesmo ano, casou-se com Carmen Polo.

“Sua coragem exemplar e sua insistência em ordem e disciplina fazem dele um comandante eficaz”, escreveu o historiador americano Stanley Payne sobre esse personagem que, em 1926, aos 33 anos, tornou-se o general mais jovem da Europa.

Em 1934, dirigiu, de Madri, a repressão de uma greve de mineiros revolucionária em Astúrias (norte).

– Vitória e repressão –

Franco é um dos principais conspiradores no levante militar de julho de 1936 contra a República liderada pela Frente Popular de esquerda.

Pede ajuda a Adolf Hitler para organizar uma ponte aérea para levar as tropas coloniais do Marrocos à península. Em 1º de outubro, os insurgentes o nomeiam “Generalíssimo e chefe de governo do Estado espanhol”.

Apoiado por Hitler e Benito Mussolini, venceu a Guerra Civil em 1939, esmagando os republicanos respaldados pela antiga União Soviética. O conflito deixou milhares de mortos.

Durante seus primeiros cinco anos no poder, Franco executou dezenas de milhares de prisioneiros republicanos.

Com o título de “Caudilho”, comandou um país em ruínas. Evitou participar da Segunda Guerra Mundial, mas sua simpatia pelos poderes do Eixo lhe rendeu o ostracismo dos Aliados.

Isolado, favoreceu uma política de autossuficiência e a criação de grandes empresas públicas. Seu regime foi apoiado pelo Exército, pela Igreja católica e pela Falange, partido inspirado no fascismo.

Tinha “uma forte convicção de seu papel como homem providencial”, segundo um de seus biógrafos, Juan Pablo Fusi. A partir daí, a construção de seu mausoléu faraônico do Vale dos Caídos, perto de El Escorial de Felipe II, o panteão dos reis espanhóis.

Caseiro, amante da caça e da pesca, nunca viajou para o exterior.

Seu anticomunismo lhe permitiu que se beneficiasse da Guerra Fria para se aproximar de Washington e contornar o isolamento. A Espanha entra na ONU em 1955.

Nos anos 1960, os tecnocratas entram no governo que coloca a Espanha no caminho do desenvolvimento econômico.

Em 1969, para restabelecer a monarquia, Franco nomeia o príncipe Juan Carlos de Borbón para lhe suceder. “O próprio Franco sabia que o franquismo não sobreviveria a ele”, diria Juan Carlos posteriormente.

Em 27 de setembro de 1975, são executados em Burgos (norte) os seis últimos condenados à morte pela ditadura, apesar dos protestos internacionais.

Em 20 de novembro de 1975, Franco morre e, com ele, a última ditadura da Europa Ocidental.