ROMA, 21 ABR (ANSA) – Por Alessandro Castellani – Um Papa torcedor. A atenção de um pontífice ao esporte que, desde João Paulo II, não é mais uma exceção dessacralizante, contudo, um sucessor de Pedro que fosse torcedor de estádio como Francisco, com uma paixão saudável e muito visceral, nunca tinha sido visto antes.
Na história de Jorge Bergoglio, um menino argentino e padre entre os moradores de rua, não está apenas o amor pelo San Lorenzo de Almagro, há também dias passados com estrelas como Diego Maradona, festas com jovens atletas, mensagens contínuas sobre o valor unificador do esporte e o lançamento da Athletica Vaticana, equipe que sonha em ir para as Olimpíadas.
A paixão de Francisco pelo esporte nasceu na infância. Uma testemunha direta, um agente italiano da Fifa que vivia na América do Sul, afirmou que notou durante um jogo entre River Plate e San Lorenzo, no estádio Monumental de Núñez, um padre que estava “torcendo como um louco”. Na ocasião, o ex-jogador Daniel Passarella afirmou que o religioso era Bergoglio, bispo de Buenos Aires.
Francisco nunca escondeu essa paixão, pois sua vida estava repleta de fortes simbolismos. O San Lorenzo foi fundado em um bairro da capital argentina em 1908 por um padre salesiano, Lorenzo Massa, que reuniu um grupo de crianças de rua e adotou as cores vermelha e azul, as mesmas que tingiam as roupas da Virgem Maria Auxiliadora, de quem dom Massa era muito devoto.
Uma capela no centro esportivo do time também recebeu o nome do padre e, em 2011, o futuro papa Francisco foi o responsável pela inauguração do local. O apelido “Cuervos”, como são chamados os fãs do San Lorenzo, vem da forma como os padres eram conhecidos, por causa de suas roupas tipicamente pretas.
Bergoglio começou a frequentar o Estádio Gasômetro, casa do San Lorenzo, junto com seu pai, Mario, um ferroviário de origem italiana e um dos torcedores que invadiram o campo do time em 8 de dezembro de 1946 para comemorar a conquista do título argentino. O Papa contou que, quando menino, também acompanhava o time de basquete do San Lorenzo, esporte que seu pai praticava e ao qual ele, Jorge, também se dedicava nos tempos livres.
A visita mais famosa entre os muitos campeões esportivos recebidos pelo Papa continua sendo a do “filho pródigo” Diego Maradona, que em fevereiro de 2014, antes de uma partida beneficente, foi recebido por Francisco junto com uma delegação de 400 jogadores de futebol, entre eles Javier Zanetti, Alessandro Del Piero, Gianluigi Buffon, Andrea Pirlo e Paolo Maldini.
O Papa tinha uma palavra para todos, mas o abraço entre Francisco e Maradona foi particularmente longo e intenso. O ‘Pibe de oro’ revelou mais tarde que reencontrou sua fé em virtude daquele momento. “O papa Francisco me disse que estava me esperando. Ele é muito mais que Maradona, ele é o verdadeiro campeão”, declarou o ex-jogador, falecido em 2020.
Também em 2014, o San Lorenzo venceu a Copa Libertadores da América, e imediatamente o elenco e a comissão técnica partiram para Roma para levar o troféu ao Papa. Na oportunidade, o pontífice não deixou de ressaltar que “são parte da sua identidade cultural”. Naquele dia, por um momento, Bergoglio voltou a ser a criança cujo ídolo era o atacante René Pontoni (1920-1983).
Em muitos discursos, o Papa lembrou que “o esporte é uma ferramenta formidável para construir a paz, é gerador de sociabilidade e cria amizades”, ideais também no mundo olímpico.
E talvez não seja coincidência que tenha sido durante o pontificado de Bergoglio que nasceu e se desenvolveu a Athletica Vaticana, representando o menor Estado do mundo, ativo em atletismo, ciclismo, taekwondo e críquete, e que pretende participar das Olimpíadas. Se isso acontecer, o crédito será, sobretudo, de Jorge Bergoglio. (ANSA).