O cineasta Francis Ford Coppola esteve na capital paulista nesta segunda-feira, 28, para falar sobre seu lançamento, “Megalópolis”, a convite da distribuidora O2 Play. O título encerra a 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo nesta quarta, 30, e estreia em todo Brasil na quinta, 31.

No alto de seus 85 anos, caminhando com certa dificuldade, mas ainda cheio de carisma e bom humor, o cineasta responsável por clássicos como a trilogia “O Poderoso Chefão” e o épico sobre a Guerra do Vietnã “Apocalypse Now” atendeu a um público que, além de curioso sobre sua carreira, se apresentou (e como não?) emocionado.

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Em mesa mediada pela crítica Isabela Boscov, Coppola já chegou dizendo que gostaria de responder a questões da plateia, incentivando que os convidados fizessem perguntas que o desafiassem. Ao final da conversa, ele ainda pediu que quem tivesse visto “Megalópolis” e “odiado” o filme também fizesse perguntas a ele — o que não aconteceu.

Curitiba foi ‘protótipo’ de utopia

“Megalópolis” é um épico romano utópico que traz Adam Driver como um arquiteto megalomaníaco e egocêntrico que pretende reconstruir a cidade de Nova Roma (ou Nova York). Seu objetivo é transformar a metrópole em uma sociedade autossustentável, que cresce organicamente com seus habitantes, utilizando uma substância “mágica”.

Durante a conversa, Coppola disse que a cidade de Curitiba, capital do Paraná, e o arquiteto Jaime Lerner — que governou o estado de 1995 a 2002 e teve outros três mandatos como prefeito — serviram de inspiração para a criação de Megalópolis e do protagonista Cesar Catilina, vivido por Driver.

“Quando eu estava trabalhando em ‘Megalópolis’, visitei todos os lugares no mundo que achei que poderiam ser exemplos de sociedades que fazem seu povo feliz, que resolvem problemas difíceis inteligentemente. Fui a Curitiba anos atrás e foi o protótipo para o que eu estava fazendo no filme”, declarou Coppola.

Citando o sistema de ônibus expresso que revolucionou o transporte na capital paranaense e foi exportado para outros países, o diretor ainda comentou que “com certeza retornaria” ao município.

“Eu diria que se eles me deixarem ir a Curitiba, se tiver um lugar para dormir, com certeza vou. Estou muito pobre agora, porque coloquei todo meu dinheiro nesse filme”, brincou o cineasta, arrancando risos da plateia. 

Coppola não se preocupa com ‘nova falência’

O personagem de Adam Driver, em algum nível, também pode ser comparado ao cineasta, que ao longo de sua carreira se dedicou a projetos megalomaníacos como “Apocalypse Now”.

Com custo presumido de cerca de 120  milhões de dólares, “Megalópolis” é mais um trabalho do diretor que foi financiado com seu próprio dinheiro, o que aconteceu tanto com o épico de guerra quanto com “O Fundo do Coração”, lançado em 1981, e que levou o cineasta a declarar falência.

Ter “falido” duas vezes antes não assusta Coppola, que pela terceira vez diz ter usado todo seu dinheiro na produção de um longa e avalia que produzir arte, por si só, já é arriscado. 

“Fazer arte sem se arriscar é como querer fazer um bebê sem sexo”, brinca. Segundo Coppola, “artistas não devem se preocupar com os riscos, porque riscos são para empresários”. 

“Assim que eles [empresários] vão ficando trilionários, eles vão ficando infelizes. Não conheço nenhum bilionário que é feliz”, diz o cineasta arrancando risos da plateia.