Na lista das maiores geradoras de energia elétrica do Brasil, a franco-belga Engie deu início a uma ampla estratégia de diversificação dos negócios. A nova rota traçada pela companhia tem como foco a área de serviços, transmissão de energia e gás natural. Um dos objetivos é se preparar para o fim de contratos de concessão de hidrelétricas nos próximos dez anos, como os das usinas da Gerasul, empresa privatizada em 1998 e arrematada pelo grupo.

Para escapar da armadilha que algumas empresas caíram com o vencimento das concessões – caso da estatal mineira Cemig e da paulista Cesp -, a Engie quer, aos poucos, criar condições para substituir receitas caso seja necessário. “É claro que se houver uma ‘relicitação’ das usinas nós vamos disputar. Mas, nesse processo, podemos ganhar ou perder”, afirma o presidente do grupo, Maurício Bähr.

As três primeiras usinas a vencer têm capacidade de 2.724 megawatts (MW), o que representava 27% da capacidade total de geração da empresa no ano passado. Esse porcentual, no entanto, caiu para 24% com a incorporação de duas usinas da Cemig, leiloadas pelo governo federal em setembro de 2017. A Engie pagou R$ 3,5 bilhão para arrematar as duas hidrelétricas, cujo contrato de concessão havia vencido. Hoje a capacidade instalada do grupo está em 11.059 MW.

Na busca para criar novas alternativas de receita, a empresa também decidiu entrar no segmento de transmissão de energia. Logo na estreia, no mês passado, deixou para trás companhias tradicionais no segmento, como Copel e Cteep, e venceu a licitação de 1.100 quilômetros (km) de linhas no Paraná. Só nessa obra, a companhia vai investir R$ 2 bilhões.

Os negócios fechados no ano passado pela Engie somam algo em torno de R$ 8,3 bilhões em compras e investimentos para os próximos anos. Além das hidrelétricas da Cemig e das linhas de transmissão, a companhia comprou o complexo eólico Umburanas, da Renova, que exigirá investimentos de R$ 1,8 bilhão. “Queremos ter 100% da carteira em energia renovável até o fim deste ano”, diz Bähr.

Para limpar o portfólio, a empresa colocou à venda dois complexos termoelétricos a carvão, que agora estão em processo de due diligence (auditoria de risco dos ativos) por uma empresa americana. O negócio pode ser fechado ainda este mês, segundo fontes ouvidas pelo Estado.

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Ao mesmo tempo que tenta se livrar de uma fonte poluente, a Engie quer apostar na expansão do gás natural, considerado por Bähr o combustível do futuro. “Além disso, é uma fonte que ajuda na intermitência das usinas eólicas e solares (que geram mais ou menos de acordo com condições climáticas)”, afirma o executivo.

Petrobrás. O apetite da companhia por negócios nessa área é ambicioso. Fontes de mercado afirmam que a empresa é uma das interessadas em comprar a Transportadora Associada de Gás (TAG), da Petrobrás, que tem 4.500 km de gasodutos no Nordeste do Brasil. Na segunda-feira, a presidente global da Engie, Isabelle Kocher, confirmou em evento em Paris o interesse pelo ativo.

Maurício Bähr prefere não falar sobre o assunto, mas destaca que a empresa está de olho na compra de ativos em várias áreas eleitas pela companhia para serem ampliadas nos próximos anos. Isso inclui o segmento de eficiência energética, mobilidade urbana, painéis solares e iluminação pública – todas áreas que tem tido grande avanço nos últimos anos no Brasil.

“O crescimento nessas áreas também faz parte de uma estratégia global da Engie. Na Europa, a ênfase da empresa é em serviços”, afirma o presidente da consultoria Thymos Energia, João Carlos Mello. “É uma mudança de rota”, diz ele.

Na área de painéis solares, a empresa teve um crescimento de 80% no ano passado e deve manter esse ritmo em 2018, já que esse setor tem um potencial enorme para avançar no País. “Fizemos mais de dez mil instalações em 2017”, afirma Bähr. Em iluminação pública, ele destaca que está avaliando alguns modelos de negócios em Brasília, Rio de Janeiro, Niterói e Salvador.

Mobilidade. O executivo destaca ainda outra aposta da companhia: o setor de mobilidade urbana. Nesse caso, um dos focos da Engie é o serviço de monitoramento de cidades. No Rio, por exemplo, foram instaladas 800 câmeras que enviam imagens diretas para um centro de operações, que monitora o tráfego e a segurança da cidade. Em Niterói, a empresa instalou um sistema de monitoramento de tráfego e controle remoto de sinais de trânsito de acordo com o fluxo de veículos.

Para fazer frente a todos os investimentos, Bähr afirma que, em termos de capacidade financeira, a empresa está em boa situação. “Temos muito espaço para elevar o endividamento, hoje em torno de 1 a 1,5 vezes o Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Podemos chegar a 2,5 vezes”, diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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