Concordo plenamente com Roberto Freire, o presidente nacional do Cidadania, quando ele diz que o encontro entre Fernando Henrique Cardoso e Lula foi um grave erro político. 

Não para Lula, é claro, que nesta semana se declarou candidato às eleições de 2022 (como se precisasse). O capital político do petista aumenta cada vez que ele recebe o aperto de mão – ou soquinho, ou cotovelada, ou seja lá o que as pessoas fazem para se cumprimentar no meio da pandemia – de alguma figura representativa.

No caso específico da foto com Fernando Henrique, ela ajuda o petista a ocupar uma faixa no centro do espectro político. Sendo a política, em certa medida, uma briga por espaço, isso atrapalha o surgimento de uma terceira candidatura, moderada, para a disputa do ano que vem. Como FHC tende a ser um dos fiadores de uma candidatura desse tipo, caso ela (oxalá!) venha de fato a surgir, já fica posta desde já uma incômoda ambiguidade. Como se o tucano dissesse: “Eu vou apoiar esta figura aqui, mas o Lula também serve”.

É muito cedo, cedíssimo, para esse tipo de acomodação. Vou repetir palavras que escrevi anteriormente, em outro espaço: o centro moderado (não o Centrão oportunista) precisa ser radical. Ele só vai ter relevância se virar posição de combate no debate público e nas redes sociais. É preciso enfrentar sistematicamente os adversários à direita e à esquerda, inclusive empurrando-os mais e mais para os extremos, se necessário. 

Se for visto como inerte, o centro já era. Se for visto como um poodle abanando o rabinho no meio da guerra, o centro já era. Se parecer que está disposto a uma acomodação quando o jogo nem começou – bem, nem vou repetir. 

Até me atrapalhei com a digitação algumas vezes antes de conseguir escrever esta frase direito, mas quem está certo, neste momento, é Ciro Gomes. Ele vem batendo em Lula sem piedade, sem hesitação. Nem é preciso dizer que também bate em Bolsonaro. E porque haveria de ser diferente? 

A esta altura dos acontecimentos, em maio de 2020, só há motivos racionais para querer ver Bolsonaro longe do poder. Ele é tosco, incompetente, destrutivo, autoritário, perigoso. 

Da mesma forma, só a falta de imaginação explica que alguém deseje ver o PT de volta ao Planalto. O mensalão e o petrolão corromperam o partido até a medula dos ossos. A Lava Jato meteu os pés pelas mãos no afã de prender Lula, mas não fez nada de errado na hora de coletar as provas que flagraram o partido em ampla e irrestrita gatunagem . Essas provas podem ter perdido validade no mundo jurídico, mas continuam sólidas no mundo dos julgamentos políticos. 

Além das culpas do passado, o PT também está repleto de ressentimento (injustificado). E o ressentimento é um dos piores motores da ação política. Não acredito por um instante quando Lula faz aquela cara de quem está acima de buscar revanches. Gleisi Hoffmann nem procura disfarçar. 

Francamente, Fernando Henrique. Disseram que você era um sábio. Nesse caso, em vez de fazer fotos ao lado de Lula, você deveria estar por aí em busca de um bom candidato, como aquele filósofo da Antiguidade que andava pelas ruas com uma lanterna nas mãos, dizendo estar à procura de um homem honesto.