“Todas somos Gisèle”. Cerca de 10 mil pessoas se manifestaram neste sábado (14) na França em apoio a Gisèle Pelicot, drogada por seu marido durante uma década para que fosse estuprada por dezenas de homens, e para que a “vergonha mude de lado”.

Mais de 3.500 manifestantes, mulheres e homens, reunidos na Praça da República em Paris, entoaram gritos como “Você não está mais sozinha” ou “Estuprador, te vemos; vítima, acreditamos em você”.

Em Marselha, no sul, os manifestantes – mais de 1.000, segundo os organizadores – penduraram um banner no Palácio da Justiça com a mensagem: “Para que a vergonha mude de lado”.

No oeste do país, em Rennes, entre 200 e 400 pessoas seguravam cartazes com frases como “Proteja sua filha, eduque seu filho” ou “Gisèle, nós te amamos”.

A designer gráfica belga “Aline Dessine”, com 2,5 milhões de seguidores no TikTok, desenhou um cartaz com o rosto de Gisèle Pelicot, com cabelo curto e óculos de sol redondos, que foi usado para convocar a manifestação em apoio às vítimas de violência sexual.

Gisèle, de 71 anos, despertou uma enorme onda de apoio às vítimas de estupro e agressões sexuais ao aceitar que o julgamento de seu marido e dos 50 homens que ele contatou pela internet para estuprá-la enquanto estava inconsciente fosse público.

O julgamento de Dominique Pelicot, agora ex-marido da vítima, e dos 50 acusados começou no dia 2 de setembro em Avignon, no sul da França.

“Requer muita coragem da parte dela, mas era fundamental; assim podemos ver os rostos de seu marido e de todos os outros, ver que não eram criminosos, mas ‘bons pais de família'”, destacou Justine Imbert, de 34 anos, que participou da manifestação em Marselha com sua filha de seis anos.

Os participantes exigiram em todas as manifestações que esses temas deixem de ser tabu e que o caso leve a sociedade e os poderes públicos a agir.

“Este julgamento midiático fará com que se fale sobre o assunto, conscientizará”, declarou Martine Ragon, uma aposentada de 74 anos que foi às ruas em Marselha para “denunciar a cultura do estupro”.

“Quando li a história, senti nojo, até mesmo nojo de ser um homem […] Espero que haja uma verdadeira condenação, um verdadeiro exemplo”, disse, por sua vez, à AFP Stéphane Boufferet, de 26 anos, trabalhador do setor agrícola que protestou junto a cerca de 200 pessoas em Clermont-Ferrand, no centro da França.

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