O governo francês decidiu suspender “até novo aviso” todos os voos entre Brasil e França por causa de preocupações em torno da variante brasileira da covid-19, anunciou nesta terça-feira (13) o primeiro-ministro Jean Castex.

“Constatamos que a situação está se agravando e por isso decidimos suspender até novo aviso todos os voos entre Brasil e França”, explicou o chefe de governo durante sessão de perguntas na Assembleia Nacional.

Até agora, os viajantes procedentes do Brasil, assim como de outros países, deviam apresentar um teste PCR negativo para poder entrar na França e se comprometer a se isolar por sete dias.

A medida foi adotada em vista da situação sanitária no Brasil, que não parou de se agravar desde fevereiro, devido ao aparecimento de uma nova variante do vírus, conhecida como P1, considerada mais contagiosa e perigosa.

Questionado pela AFP, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil disse que esse tipo de restrição adotada por alguns países por causa das novas variantes do coronavírus “tem atingido não apenas o Brasil, mas também países como Reino Unido, África do Sul e Japão”.

“Trata-se do mesmo critério que justifica a proibição, atualmente vigente, de ingresso no Brasil de voos oriundos do Reino Unido e da África do Sul”, acrescentou.

Embora na França a variante brasileira ainda seja minoritária (menos de 5% dos casos), os profissionais da saúde vêm alertando há alguns dias para a disseminação dessa cepa e a oposição exigiu que o governo interrompesse os voos com o país.

“Não podemos encarar a variante brasileira superficialmente”, avaliou nesta terça o chefe dos serviços de doenças infecciosas de um hospital parisiense, Gilles Pialoux.

Esta cepa, surgida no estado do Amazonas, preocupa sobretudo por sua resistência às vacinas contra a covid-19.

Os cientistas falam de um fenômeno de “escape imunológico”.

“As vacinas funcionam muito bem com a mutação inglesa, mas vemos uma perda de proteção com as variantes brasileira e sul-africana”, explicou ao jornal Le Parisien o virologista Bruno Lina.

As duas cepas são portadoras da mesma mutação, a E48K, que se suspeita que reduza a imunidade adquirida, seja por uma infecção passada (com o consequente aumento de possibilidade de reinfecção) ou através das vacinas.

Embora ainda se disponha de poucos dados sobre a variante brasileira, vários estudos in vitro da variante sul-africana demonstram este risco.

A França, que voltou a um confinamento nacional parcial desde 3 de abril, e que beira os 100.000 mortos pela covid, registrou um forte aumento dos contágios.

Na segunda-feira foram registradas mais de 5.900 pessoas com covid internadas em unidades de terapia intensiva, uma cifra que não se via há um ano.