A embaixada da França no Paquistão recomendou nesta quinta-feira (15) a seus cidadãos e às empresas francesas que abandonem temporariamente o país, em razão de “graves ameaças”, após os violentos protestos contra interesses franceses no início da semana.

“Devido às graves ameaças que pesam contra os interesses franceses no Paquistão, recomendamos aos cidadãos franceses a partir temporariamente do país”, escreveu a embaixada em uma mensagem enviada aos franceses que vivem no Paquistão, que registrou esta semana violentas manifestações contra o país europeu.

Um partido islamita radical, Tehreek e Ilabbaik Pakistan (TLP), bloqueou parcialmente no início da semana as duas maiores cidades do país, Lahore (leste) e Karachi (sul), assim como a capital Islamabad (norte), para exigir a expulsão do embaixador da França.

As manifestações foram violentamente reprimidas pela polícia e pelo menos duas pessoas morreram nas operações das forças de segurança.

Os partidários do TLP reagiram com revolta após a detenção na segunda-feira em Lahore de seu líder, Saad Rizvi, poucas horas depois da convocação de uma passeata para 20 de abril em Islamabad para pedir a expulsão do embaixador da França.

O TLP exige esta expulsão desde que o presidente Emmanuel Macron defendeu o direito de publicação de charges em nome da liberdade de expressão, durante a homenagem a um professor assassinado em 16 de outubro, depois que exibiu desenhos satíricos a sua turma, após a reedição das caricaturas do profeta Maomé pela revista Charlie Hebdo.

O governo paquistanês anunciou na quarta-feira a intenção de proibir o TLP, que já havia organizado protestos violentos contra a França no fim de 2020.

As declarações de Macron de que a França não renunciaria às charges, incluindo as do profeta Maomé, provocaram protestos no Paquistão e outros países muçulmanos, assim como pedidos de boicote dos produtos franceses.

Em sua interpretação estrita, o Islã proíbe qualquer representação de Maomé. A blasfêmia é um tema muito importante no Paquistão, onde até mesmo acusações não comprovadas de ofensa ao Islã podem resultar em assassinatos e linchamentos.

No fim de outubro, o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, acusou Emmanuel Macron de “atacar o Islã” e o embaixador francês no Paquistão, Marc Baréty, foi convocado pela “campanha islamofóbica sistemática do presidente francês sob a aparência da liberdade de expressão”.

Desde então, as relações continuam sendo tensas entre as autoridades dos dois países.

Em novembro, o ministério francês das Relações Exteriores condenou com veemência as “detestáveis e falsas” declarações da ministra paquistanesa dos Direitos Humanos, Shireen Mazari, que escreveu no Twitter que “Macron está fazendo com os muçulmanos o que os nazistas infligiram aos judeus”.

Em fevereiro, o ministério convocou o representante de negócios da embaixada do Paquistão e pediu a Islamabad que tivesse uma “atitude construtiva” depois que o presidente paquistanês, Arif Alvi, fez comentários contra um projeto de lei contra o Islã radical na França.