Desconhecido há uma semana, o gendarme Arnaud Beltrame era celebrado nesta quarta-feira (28) como um herói pela França, que lhe presta uma homenagem nacional, cinco dias após a sua morte durante ataques extremistas no sul do país.

Centenas de pessoas são esperadas nos Inválidos, monumento em Paris que abriga um cemitério militar e os restos de Napoleão I, e local de homenagem aos grandes homens e mulheres do país.

O presidente Emmanuel Macron pronunciará o elogio fúnebre deste oficial de 44 anos que “doou sua vida para proteger” seus concidadãos.

Esta cerimônia deve tirar, momentaneamente, o foco da política antiterrorista do Governo desde que Radouane Lakdim, um criminoso comum que se radicalizou, matou quatro pessoas em Carcassonne e Trèbes na sexta-feira.

Ao mesmo tempo, o tenente-coronel Beltrame foi promovido ao posto de coronel por decisão do presidente, segundo o Diário Oficial. Ele também é citado à ordem da Nação por sua “coragem exemplar” e “abnegação total”.

Líderes da oposição, como Laurent Wauquiez (Republicanos, direita) e Marine Le Pen (Frente Nacional, extrema direita) estarão presentes, ao lado de todo governo e dos ex-presidentes Nicolas Sarkozy e François Hollande.

Entre os 400 convidados estão as famílias das vítimas.

O caixão de Arnaud Beltrame será acompanhado por 200 de seus irmãos de armas, companheiros que o conheceram durante sua brilhante carreira no Exército e na Gendarmaria.

Antes de chegar aos Inválidos, o cortejo fúnebre ficará parado por 15 minutos em frente ao Panteão, a necrópole laica dos “grandes homens” franceses.

Refletindo a comoção nacional, a cerimônia será transmitida ao vivo por muitos canais de televisão.

À noite, os policiais puderam prestar uma homenagem íntima ao colega em um quartel de Paris, onde seu caixão havia sido transportado depois de deixar Carcassonne.

Arnaud Beltrame “se sentia intrinsecamente gendarme. Para ele, ser um policial significa proteger”, declarou sua viúva Marielle ao jornal cristão La Vie. Sua decisão de se entregar ao jihadista no lugar uma mulher feita refém foi “o gesto de um policial e o gesto de um cristão”, acrescentou.

– “Senso de dever” –

Arnaud Beltrame se formou major em sua escola militar, antes de se juntar a uma unidade de elite de paraquedistas no Iraque. Depois, participou da segurança do palácio presidencial do Eliseu e comandou uma empresa na Normandia.

Seu funeral será na quinta-feira em Ferrals (sul), onde vivia com sua esposa. As outras três vítimas – Hervé Sosna, Jean Mazières e Christian Medves – também serão enterradas amanhã.

Desde sua morte, Arnaud Beltrame simboliza para a imprensa e os líderes políticos o “senso de dever”, “bravura”, “coragem” e “heroísmo”, e alguns municípios já deram seu nome a uma rua, ou lugar público.

Wauquiez denunciou na segunda-feira a “ingenuidade culpada” de Emmanuel Macron e exigiu a restauração do estado de emergência e a expulsão de estrangeiros fichados por radicalização.

“Não há instrumentalização pior do que se esconder atrás de um herói para escapar de sua própria incompetência e covardia. (…) Não há pior desprezo pelas vítimas do que fazer nada para mudar”, acusou Le Pen.

Críticas às quais o primeiro-ministro Edouard Philippe respondeu dizendo “desconfiar de respostas jurídicas rápidas”.

Já existe “um arsenal jurídico (…) para entender, monitorar, sancionar”, disse ele.

Morto na sexta-feira durante o ataque à unidade de elite da gendarmaria, Radouane Lakdim era fichado por radicalização desde 2014.