O presidente francês, Emmanuel Macron, deve anunciar, na próxima quinta-feira, a instauração de um serviço militar voluntário na França, seguindo o exemplo de outros países europeus diante da crescente ameaça que veem na Rússia e as dúvidas sobre seu aliado americano.
O anúncio surge após a polêmica gerada pelo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Fabien Mandon, que na semana passada apelou aos franceses para que “aceitassem perder os seus filhos” em caso de conflitos na Europa.
O presidente garantiu que suas palavras foram tiradas do contexto: “É realmente necessário eliminar imediatamente qualquer ideia confusa que consistiria em dizer que vamos enviar nossos jovens para a Ucrânia”, esclareceu Macron nesta terça-feira (25) em declarações à rádio RTL.
A França suspendeu o serviço militar obrigatório em 1997, durante a Presidência do conservador Jacques Chirac, mas Macron defende “um novo quadro para servir” nas Forças Armadas e “reforçar o pacto exército-nação”.
O presidente de centro-direita deve anunciar na quinta-feira a instauração de um serviço militar voluntário, segundo várias fontes. O objetivo é começar com cerca de 2.000 pessoas e chegar progressivamente a cerca de 50.000 voluntários por ano.
O governo não detalhou as modalidades por enquanto, mas, de acordo com vários meios de comunicação, a duração prevista seria de 10 meses e a remuneração seria de várias centenas de euros.
As Forças Armadas francesas contam com aproximadamente 200.000 militares na ativa e 47.000 reservistas, e a meta é chegar a 210.000 e 80.000 pessoas, respectivamente, em 2030.
– Obrigatório ou voluntário? –
Desde a invasão russa da Ucrânia, em 2022, vários países europeus, que tinham posto fim ao recrutamento após a dissolução da União Soviética, em 1991, introduziram um serviço militar, seja obrigatório ou voluntário.
Os Países Baixos instauraram o voluntário em 2023, assim como a Bulgária em 2020. A Bélgica e a Romênia preveem fazê-lo a partir de 2026, assim como a Alemanha, que ainda deve votá-lo no Parlamento.
O objetivo é “dissuadir” Moscou para que não espalhe sua guerra na Europa. Os europeus também aumentaram seus gastos militares, sob a pressão do presidente Donald Trump, que questionou o compromisso de Washington com a segurança de seus aliados.
“No mundo em que vivemos, cheio de incertezas e de um aumento das tensões, se realmente queremos estar seguros, devemos dissuadir o outro de vir”, disse no sábado Macron, cujo país também é uma potência nuclear.
Segundo dados em poder do exército francês, “a Rússia está se preparando para um confronto para o ano de 2030” com os países da Otan, assegurou no sábado o general Mandon em um congresso de prefeitos.
Diferentemente da França, cuja capital fica a quase 2.500 km em linha reta de Moscou, os países da União Europeia e da Otan que compartilham fronteira com a Rússia mantiveram ou reintroduziram o serviço militar obrigatório, exceto a Polônia.
– “Coesão nacional” –
A maioria dos partidos na França é favorável a algum tipo de serviço militar. O ultradireitista Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen, defende um serviço militar obrigatório de três meses para homens e mulheres.
O partido de esquerda radical La France Insoumise, de Jean-Luc Mélenchon, defende um “serviço militar misto”, que inclua formação militar e atuação em caso de catástrofes naturais.
A Revue nationale stratégique 2025, que reúne diretrizes da França em matéria militar, recomenda a introdução do serviço militar voluntário para criar uma reserva de pessoas preparadas em caso de crise e também para “reforçar a coesão nacional”.
Em 2019, a França já havia lançado o Serviço Nacional Universal (SNU) para jovens entre 15 e 17 anos, que incluía uma “missão de interesse geral” e jornadas de “coesão” com uma cerimônia de “hasteamento da bandeira” e uso de uniforme, mas não teve sucesso.
Dos franceses entrevistados, 86% são favoráveis à reintrodução do serviço militar e 33% pedem que seja voluntário, de acordo com uma pesquisa realizada em março pela Ipsos.
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