O governo francês encobriu, “no mais alto nível”, um escândalo sobre o tratamento da água mineral por parte da gigante de alimentos Nestlé, incluindo a icônica marca Perrier, indicou uma investigação do Senado nesta segunda-feira (19).
Nos últimos anos, o conglomerado suíço esteve sob pressão em relação a Perrier e outras marcas, visto que as regras da União Europeia limitam estritamente os tratamentos permitidos em produtos comercializados como água mineral natural.
“Além da falta de transparência da Nestlé Waters, é importante destacar a falta de transparência do Estado, tanto em relação às autoridades locais e europeias quanto em relação ao povo francês”, afirma o relatório do Senado.
O documento, resultado de uma investigação de seis meses feita pela Câmara Alta, aponta para uma “estratégia deliberada” de ocultação abordada durante uma “primeira reunião interministerial” em 14 de outubro de 2021.
A Nestlé adquiriu a Perrier no início da década de 1990. Mas sua nova administração alegou, no final de 2020, ter descoberto o uso de tratamentos proibidos para água mineral em suas marcas Perrier, Hépar e Contrex.
A empresa entrou em contato com o governo para obter assistência e apresentou um plano para resolver o problema até meados de 2021 e, posteriormente, com a presidência francesa.
Um ano e meio depois, as autoridades aprovaram um plano de transformação de suas instalações para substituir os tratamentos proibidos – UV, carvão ativado – por microfiltração fina.
Mas este método pode privar a água mineral de suas características, contrariando o que a legislação europeia estipula para a água mineral natural.
“Apesar da fraude ao consumidor que a desinfecção da água representa”, as autoridades não tomaram medidas legais em resposta às revelações de 2021, enfatiza o relatório.
Segundo a comissão parlamentar, o gabinete do presidente Emmanuel Macron “sabia, pelo menos desde 2022, que a Nestlé estava trapaceando há anos”.
Alexis Kohler, então secretário-geral da presidência, se reuniu com executivos da Nestlé.
Em 2024, a Nestlé Waters admitiu ter usado filtros proibidos e tratamento ultravioleta em águas minerais. A empresa pagou uma multa de dois milhões de euros (R$ 12,7 milhões, na cotação atual) para evitar ações legais.
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