O governo francês de Emmanuel Macron apresentou nesta sexta-feira (23) um novo plano para lutar contra a radicalização jihadista que prevê a criação de pavilhões dedicados exclusivamente aos presos radicalizados para evitar “um efeito de contágio”.

“A radicalização islamita ameaça a nossa sociedade”, declarou o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, durante a apresentação do chamado “Plano Nacional de Prevenção da Radicalização”, que inclui 60 medidas.

A luta contra a radicalização é uma prioridade nacional na França desde os atentados extremistas de 2015, que marcaram o início de uma onda de ataques que deixou 241 mortos e centenas de feridos.

Philippe anunciou a criação de 1.500 vagas “em pavilhões isolados” para os detidos radicalizados, a fim de evitar que radicalizem outros presos, um fenômeno que preocupa os especialistas.

“As estratégias proselitistas” observadas na prisão “legitimam” a criação desses espaços dentro dos centros penitenciários, onde serão encarcerados os detidos radicalizados em grupos de entre 15 e 20 pessoas, assinalou uma fonte carcerária.

Os réus também deverão seguir um programa de prevenção contra a radicalização durante um período de três a cinco meses, comandado por educadores e psicólogos.

– Estruturas específicas para ‘peixes grandes’ –

Os extremistas mais perigosos serão agrupados em pavilhões especiais em duas prisões francesas, Vendin-le-Vieil e Condé-sur-Sarthe, tomando como modelo a de Lille-Annoeullin, que atualmente conta com 19 detidos.

Estes lugares serão destinados exclusivamente aos “peixes grandes”, líderes extremistas e proselitistas que “não queremos que contagiem o resto dos réus”, explicou uma fonte penitenciária. O objetivo é colocá-los em grupos de 25.

“Será como uma prisão dentro da prisão”, com um importante nível de vigilância e acompanhamento individual, acrescentou a mesma fonte.

A França conta atualmente com 70 mil presos em todo o país. Entre eles, 512 estão atrás das grades por terrorismo e foram identificados 1.139 detidos de direito comum como “radicalizados” islamitas.

– Próximo retorno de extremistas –

“Devemos atacar este problema pela raiz”, declarou em outubro Emmanuel Macron durante o anúncio deste plano, o terceiro deste tipo apresentado na França desde 2014.

Este tema ganhou força no início do ano após um movimento social de guardas penitenciários que denunciavam os problemas da gestão de detidos radicalizados em prisões superlotadas.

A greve, que durou vários dias, foi desencadeada após a agressão de três vigias por parte de um preso extremista.

A luta contra a radicalização também ganhou relevância em um momento em que a França aguarda o retorno de vários de seus cidadãos de Síria e Iraque que combateram junto com islamitas.

No total, 323 pessoas, incluindo 68 menores de idade, retornaram à França e cerca de 1.180, entre elas 500 crianças, seguem nas zonas de Iraque e Síria controladas pelos extremistas, segundo cifras oficiais publicadas nesta sexta-feira.

O plano prevê, entre outros pontos, a criação de uma formação específica da equipe que ficará encarregadas destes menores de idade, muitas vezes recrutados pela organização extremista Estado Islâmico (EI).

O primeiro-ministro francês enfatizou a situação destes jovens, que terão “um acompanhamento de longo prazo”, incluindo psicológico, “para favorecer sua reinserção”.