A França exclui pedir desculpas oficiais pelos crimes coloniais cometidos na Argélia, mas prevê “atos simbólicos”, após a entrega, nesta quarta-feira (20), de um informe sobre a colonização e a guerra nesse país do norte da África – informou a Presidência francesa.

O relatório foi encomendado pelo presidente Emmanuel Macron.

Não haverá “nem arrependimento nem pedido de desculpas” pela ocupação da Argélia, nem pela sangrenta guerra de oito anos que pôs fim a 132 anos de domínio francês, afirmou o gabinete de Macron, acrescentando que, em seu lugar, haverá uma série de “atos simbólicos” destinados a promover a reconciliação.

As atrocidades cometidas por ambos os lados durante a guerra de independência da Argélia (1954-1962) continuam a prejudicar as relações entre os dois países seis décadas depois.

Benjamin Stora, renomado especialista em história contemporânea da Argélia, entregará essa tarde o relatório encomendado por Macron em julho passado para “fazer um inventário justo e preciso da colonização e da guerra na Argélia”. Este continua sendo um episódio muito doloroso na memória das famílias de milhões de franceses e argelinos.

Stora não deve, contudo, recomendar que a França apresente um pedido de desculpas, mas sim sugerir maneiras de lançar luz sobre um dos capítulos mais sombrios da história francesa e encontrar caminhos para se promover a reconciliação.

A Presidência disse que Macron participará de três dias de comemorações no próximo ano para marcar o 60º aniversário do fim da guerra da Argélia. Cada dia será dedicado a um grupo diferente que sofreu no conflito.

O chefe de Estado “falará oportunamente” sobre as recomendações deste relatório e da comissão que se encarregará de estudá-las, disse o Palácio do Eliseu.

“Haverá palavras e atos” do presidente nos “próximos meses”, informou, acrescentando que um “período de consultas” está-se abrindo.

Trata-se de “olhar a história de frente”, de “forma serena e pacífica”, para “construir uma memória de integração”, resumiu o Eliseu.

É “um processo de reconhecimento”, mas “não se trata de arrependimento” e “desculpas”, acrescentou a Presidência, apoiando-se no parecer de Stora, citando como exemplo o precedente das desculpas apresentadas pelo Japão à Coreia do Sul e à China pela Segunda Guerra Mundial, que não lhes permitiu “reconciliar” esses países.

Entre os atos previstos, está a entrada da advogada anticolonialista Gisèle Halimi, falecida em 28 de julho de 2020, no Panteão, que acolhe os heróis da história francesa.

O Eliseu também destacou que Emmanuel Macron “não se arrepende” das palavras proferidas em Argel em 2017, denunciando a colonização como “um crime contra a humanidade”.

Macron, o primeiro presidente nascido após o período colonial, foi mais longe do que qualquer um de seus antecessores ao reconhecer a escala dos abusos cometidos pela França neste país do Magrebe.

O presidente francês espera que o documento, que será acompanhado por um relatório do historiador argelino Abdelmadjd Shiji sobre como o período colonial é lembrado naquele país, ajude a normalizar as relações entre franceses e argelinos.

Durante a guerra, as forças francesas reprimiram os pró-independência e, mais tarde, um general francês admitiu o uso de tortura.

Os combatentes da independência argelina também maltrataram prisioneiros durante um conflito complexo caracterizado pela guerra de guerrilha, que deixou 1,5 milhão de argelinos mortos.