França e UE abrem investigações sobre espionagem de jornalistas

BRUXELAS, 20 JUL (ANSA) – A União Europeia e a França anunciaram que abriram investigações sobre a espionagem de jornalistas, ativistas, políticos e empresários através do software israelense Pegasus, em esquema revelado por um consórcio de imprensa no último domingo (18).   

O comissário europeu da Justiça, Didier Reynolds, informou que Thierry Breton, comissário para o Comércio Interno, pedirá para que a DG Connect, a rede de comunicação, conteúdo e tecnologia do bloco, trabalhe sobre o tema.   

“Estamos iniciando o recolhimento de informações para entender qual pode ter sido a utilização da aplicação. Mas, usaremos mais fontes, desde aquelas judiciárias às autoridades sobre proteção de dados, para verificar a solidez das informações. Se for verdadeiro, isso é inaceitável”, destacou Reynolds.   

Já a vice-presidente da Comissão Europeia, Vera Jourova, afirmou que, se tudo for verdade, “não poderemos enfrentar a questão em nível europeu porque se trata de uma questão de segurança nacional”. “Mas, como isso é inaceitável, enfrentaremos essa questão em nossas recomendações sobre liberdade de imprensa”, pontuou.   

Entre os países do bloco que teriam usado o serviço está o governo da Hungria, que vive em constante embate com a UE por conta da restrição cada vez mais da democracia.   

Na França, o inquérito foi aberto pela Procuradoria de Paris, que considerou as revelações como uma “ofensa à vida privada” com a “interceptação de correspondência, acesso fraudulento [a um sistema de informação] e associação criminosa”.   

No país, a denúncia aponta que ao menos dois jornalistas do “Mediapart”, que é especializado em investigações, foram espionados pelo governo do Marrocos. Tratam-se dos repórteres Edwy Plenel e Lénaig Bredoux.   

Uso do Pegasus – Desenvolvido pela empresa israelense NSO Group, o software Pegasus foi criado para espionar atividades online de terroristas e criminosos, com o rastreio de sua localização, interceptação em aplicativos de conversa e, até mesmo, a ativação dos microfones dos celulares para ouvir o que o suposto terrorista estava conversando.   

No entanto, uma lista com cerca de 50 mil números de telefones, de pessoas localizadas em 50 países, mostrou que o Pegasus estava sendo utilizado por “governos autoritários” para espionar ativistas, jornalistas, políticos de oposição, membros de famílias reais árabes e empresários que têm negócios com governos.   

O México é o país com a maior quantidade de contatos nesse vazamento, com cerca de 15 mil dados – inclusive, de um jornalista que investigava o crime organizado e os desdobramentos da Operação Lava Jato no país e que foi assassinado. O celular dele nunca foi encontrado.   

A maior parte dos contatos está concentrada em 10 nações: Arábia Saudita, Azerbaijão, Bahrein, Cazaquistão, Emirados Árabes Unidos, Índia, Hungria, Marrocos, México e Ruanda. (ANSA).